O dólar à vista fechou em queda firme nesta terça-feira, 10, abaixo da linha de R$ 5,10, acompanhando o enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior e a queda das taxas dos Treasuries. Novos sinais de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que pode não haver alta adicional dos juros neste ano abriram espaço para valorização dos ativos de risco, favorecidos também pela possibilidade de estímulos econômicos na China.
Após subir mais de 4% na segunda-feira, as cotações internacionais do petróleo apresentaram recuo moderado nesta terça, em meio a apostas de que a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas não vai ter impactos severos na oferta da commodity.
Afora um alta pontual e restrita na abertura, a divisa operou em baixa ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,0552 na última hora de negócios, em meio a máximas do Ibovespa, o dólar à vista fechou em baixa de 1,44%, cotado a R$ 5,0562, voltando a níveis vistos no fim de setembro.
Depois de subir 2,69% na semana passada, que abrangeu os cinco primeiros pregões de outubro, a moeda já acumula desvalorização de 2,05% nas duas última sessões. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para novembro teve bom giro, acima de US$ 14 bilhões.
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – recuou e voltou a ser negociado abaixo da linha dos 106,000 pontos. A moeda norte-americana caiu em bloco na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com destaque para o peso colombiano e o real. A taxa da T-note de 10 anos desceu do nível de 4,80% para operar ao redor de 4,65%.
"As moedas emergentes se valorizam hoje com a queda dos juros dos Treasuries, depois de dirigente do Fed dizer que não vê necessidade de subir mais os juros. O real, por ser mais líquido, foi uma das divisas emergentes que mais se destacou, assim como havia sido uma das que mais sofreu na semana passada, com a pressão dos Treasuries", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Após o vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, dizer na segunda-feira que o núcleo de inflação pode desacelerar mais e que estará atento ao aperto financeiro promovido pela escalada dos yields dos Treasuries em suas próximas decisões, outro dirigente do BC americano acenou com a possibilidade de manutenção da taxa básica em novembro. Presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic disse que os juros já estão em níveis "suficientemente restritivos" para garantir o retorno da inflação à meta de 2% nos EUA.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ao dizer que os yields ainda elevados dos Treasuries podem "fazer o trabalho sujo do aperto monetário", o Fed sinalizou que os juros não precisam ser elevados em novembro. "Isso foi ótimo para a bolsa e o dólar, revertendo o impacto negativo do conflito no Oriente Médio", diz Velho, para quem ainda resta saber se a "questão Irã" ainda entrará nos preços do mercado, em referência à possibilidade de novas sanções econômicas e bloqueio das exportações de petróleo do Irã, tido como financiador do Hamas.
À tarde, o porta-voz do Departamento dos Estados Unidos, Matthew Miller afirmou que o Irã provavelmente estava ciente da intenção do grupo palestino Hamas de atacar alvos em Israel, mas não sabia o cronograma nem os detalhes da ofensiva iniciada no sábado.
O Bradesco aumentou a projeção para o dólar no fim de 2023, de R$ 4,80 para R$ 5,0, mas reiterou a expectativa de fortalecimento do real ao longo do ano que vem, a R$ 4,80 no fim de 2024. A estimativa já incorpora uma elevação nas estimativas para a taxa básica de juros americanas no ano que vem, da faixa de 3,25% a 3,5% para a de 4,25% a 4,5%.
"Ainda que sujeito a um menor diferencial de juros em nossas novas projeções, a queda prevista para a Selic ainda mantém uma distância para os juros dos EUA compatível com alguma apreciação do real, especialmente quando o movimento de corte de juros pelo Fed ficar mais claro", afirmou o economista-chefe do banco, Fernando Honorato.