O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 9, em queda de 0,97%, cotado a R$ 4,8763 – abaixo de R$ 4,90 pela primeira vez desde 15 de maio e no menor valor de fechamento desde 7 de junho de 2022. Operadores relataram entrada de fluxo comercial e financeiro, tanto para ações domésticas quanto para a renda fixa. A moda recuou em cinco dos últimos seis pregões e, com baixa de 1,54% na semana, já acumula desvalorização de 3,88% em junho.
O real se beneficiou da onda de apetite ao risco no exterior em meio à perspectiva de interrupção da alta de juros nos EUA no encontro de política monetária Federal Reserve (Fed, o BC americano) na semana que vem e de adoção de estímulos pelo governo chinês. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities subiram em bloco, embora dois pares do real (peso chileno e colombiano) tenham destoado. Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta, com ganhos frente ao iene e ao euro, em um ajuste após a queda de ontem, quando voltou a ser negociado abaixo da linha dos 104,000 pontos.
Ao cenário externo favorável soma-se um pano de fundo doméstico mais positivo, que combina desaceleração da inflação, melhora das expectativas de crescimento e redução do risco de trajetória explosiva do endividamento público, com a tramitação acelerada da proposta de novo arcabouço fiscal no Congresso. Houve também diminuição de ruídos políticos, tendo em vista menor número de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária e sinais de entrosamento entre o ministério da Fazenda e o Banco Central.
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que, de maneira geral, as divisas de mercados emergentes se valorizaram nos últimos dois dias em razão de uma combinação de indicadores americanos e chineses. O real, que vinha sofrendo mais que seus pares, apresentou hoje, na volta aos negócios, o melhor desempenho entre as moedas emergentes mais relevantes.
"O mercado precifica que Fed manterá taxa de juros inalterada na próxima semana e que a China pode promover mais easing (afrouxamento)", afirma Oliveira, que mantém previsão de que a taxa de câmbio local oscile entre R$ 4,85 e R$ 4,95 nos próximos meses, voltando a se "estabilizar em R$ 5,00 no fim do ano".
Ontem, foi divulgado que os novos pedidos de auxílio desemprego nos EUA, na semana encerrada dia 3, cresceram 28 mil, para 261 mil, bem acima da previsão de analistas, de 240 mil. Já na China houve leitura abaixo do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e deflação do índice de preços ao produtor (PPI), ambos referentes a maio.
O economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, observa que, apesar da surpresa com o aumento de juros pelos bancos centrais do Canadá e da Austrália nesta semana, a perspectiva ainda é de que Fed não anuncie nova elevação da taxa básica americana. "Os dados de novos pedidos de seguro desemprego vieram fortes ontem, quando foi feriado no Brasil. Isso endossa a possibilidade de o Fed fazer uma pausa no aumento de juros na semana que vem, o que ajuda moedas como o real", afirma Galhardo, para quem a tendência ainda é de queda do dólar no mercado doméstico.