O dólar derreteu na sessão desta segunda-feira, 3, e voltou a ser negociado abaixo da linha de R$ 5,20 no mercado doméstico de câmbio. A onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em dia e ganhos firmes das bolsas em Nova York e avanço das cotações do petróleo, foi turbinada por aqui pelo resultado das eleições no primeiro turno – o que levou o real a ostentar o melhor desempenho entre as principais divisas do mundo.
Segundo analistas, a formação de um Congresso mas inclinado à direta diminui temores de uma guinada heterodoxa na política econômica em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já Bolsonaro, se reeleito, verá sua base de apoio no Parlamento reforçada, em especial no Senado, e poderá avançar na agenda liberal tão ao gosto do mercado.
Esse conjunto de fatores teria levado a uma redução expressiva dos prêmios de risco embutidos em ativos brasileiros antes do primeiro turno; Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), reforçou essa narrativa hoje à tarde ao dizer que o país tem um "Congresso liberal e reformista" e que voltará a trabalhar com pautas como a reforma tributária.
Em queda firme desde a abertura dos negócios, o dólar rompeu o piso de R$ 5,20 ainda pela manhã e aprofundou o ritmo de baixa ao longo da tarde, quando registrou mínima a R$ 5,1544 (-4,45%). No fim do dia, com uma moderação das perdas, a moeda era cotada a R$ 5,1737, em baixa de 4,09%, maior queda porcentual no fechamento desde 8 de junho de 2018 (-5,35%). Com o tombo de hoje, o dólar passa a acumular baixa de 7,49% no ano, o que faz do real ser uma das poucas moedas a escapar do fortalecimento global do dólar ao longo de 2022.
"Parte das incertezas que o mercado tinha com as eleições parece ter se reduzido com a definição de alguns postos e principalmente do Congresso. Isso reduz a pressão sobre a nossa moeda", afirma a economista Cristiane Oliveira, do Banco Ourinvest. "O substancial rali do real hoje é apenas um sinal de quão grande o risco eleitoral tem sido e continuar a ser. Colocamos esse prêmio de risco entre 5% e 10%. Então, o real, pode ir facilmente abaixo da barreira de R$ 5,00 assim que as eleições terminarem", escreveu no Twitter o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks.
No exterior, o dia foi marcado por uma forte rodada de baixa do dólar. Termômetro do comportamento da moeda americana frente a seis divisas fortes, o índice DXY – que chegou a superar os 114,000 pontos na semana passada – hoje operou abaixo dos 112,00 pontos, com recuperação do euro e, em especial da libra esterlina, após sinais de que a primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, pode recuar em parte de seu pacote fiscal. Temores relacionados a saúde financeira do banco suíço Credit Suisse ficaram em segundo plano.
"Houve uma sequência de notícias boas do exterior hoje que acabaram ajudando os ativos brasileiros. Mas a eleição teve um peso grande. Está claro que o real está posicionado para ter um desempenho melhor que outras moedas nesse clima ainda de muita incerteza no exterior", afirma o chefe da área de investimentos da gestora Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, para quem o dólar tem espaço para descer até o patamar de R$ 5,00.