A volatilidade voltou a marcar o mercado de câmbio nesta terça-feira. O dólar subiu pela manhã, mas nos negócios da tarde ensaiou queda maior, chegando às mínimas de R$ 5,23 em meio a relatos de fluxo externo para o megaleilão do Tesouro desta terça, com volume de R$ 19,4 bilhões, de papéis mais longos, os preferidos pelos fundos externos. O exterior positivo também ajudou, com o dólar nas mínimas em meses antes moedas fortes como euro e, no caso da divisa do Canadá, tocando os menores níveis em seis anos. Mas o quadro interno, com o andamento da CPI da Covid e a expectativa pela agenda da quarta-feira, com depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello e a ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), limitaram a melhora do real.
O dólar à vista fechou em queda de 0,22%, cotado em R$ 5,2545. No mercado futuro, a divisa para junho cedia 0,32% às 17h43, a R$ 5,2675.
O economista-chefe da BlueLine Asset Management, Fabio Akira, ressalta que o dólar vem se depreciando não só ante o real, mas ante outras moedas, como a do Canadá e do México. Essa última vem se valorizando por causa da aceleração do crescimento dos Estados Unidos, que beneficia diretamente a economia mexicana. "É uma conjuntura global que está beneficiando o real, além da redução do estresse de curto prazo (no Brasil)", disse ele.
Pelo lado doméstico, Akira observa que havia enorme incerteza embutida nas cotações do câmbio, com risco de ruptura fiscal de curto prazo. Com a sanção do orçamento, este quadro melhorou, mas para ele, o segundo semestre tende a ser bastante volátil para o câmbio. "A gente não está conseguindo ver melhora estrutural nessa frente fiscal", afirma o economista da BlueLine. "A coalização política que sustenta o governo não é uma coalização fiscalista, tem viés de aumentar gastos."
Nesta terça, o DXY, índice que mede o comportamento da moeda dos EUA ante divisas principais, caiu abaixo do patamar de 90 pontos, operando nas mínimas em quase três meses ante o euro e a libra. Para o analista sênior de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, o catalisador desse enfraquecimento é o reforço por dirigentes do Fed de que a disparada da inflação é um fenômeno transitório.
Gestores ouvidos pelo Bank of America no começo do mês mostraram maior otimismo com o real do que nos levantamentos anteriores. A maioria dos investidores (60%, de 30% da pesquisa de abril) veem o dólar abaixo de R$ 5,30 ao final do ano, contrastando com investidores apontando chance de dólar acima de R$ 6,00 nos últimos meses. Para 45% dos ouvidos na pesquisa, o real terá o melhor desempenho na América Latina nos próximos 6 meses.