O dólar à vista emendou o quarto pregão consecutivo de baixa no mercado doméstico de câmbio nesta terça-feira, 6, e flertou na mínima com o rompimento do piso psicológico de R$ 4,90. Segundo operadores, o real voltou a se beneficiar do apetite por divisas latino-americanas de países com taxas de juros elevadas, na esteira da recuperação de preços de commodities. Circularam notícias de que a China teria orientado bancos estatais a cortar juros para depósitos em dólares. Principal par da moeda brasileira, o peso mexicano atingiu o maior valor em relação ao dólar em sete anos.
Houve relatos de entrada de fluxo estrangeiro, em especial para a bolsa doméstica, em meio às expectativas de redução da taxa Selic no segundo semestre, reforçadas hoje pela deflação de 2,33% do IGP-DI de maio, superior ao piso de Projeções Broadcast (-2,15%). Amanhã, sai o IPCA de maio, que pode ratificar a tendência de desaceleração da inflação ao consumidor.
Tirando certa volatilidade na primeira hora de negócios, quando chegou a operar em alta e registrou máxima a R$ 4,9563, o dólar à vista trabalhou em terreno negativo no restante da sessão. Com mínima a R$ 4,9015 no início da tarde, a moeda encerrou o dia em baixa de 0,37%, a R$ 4,9122. Nos quatro primeiros pregões de junho, o dólar já acumula desvalorização de 3,17%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.
Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, com agenda externa esvaziada, o mercado global de moedas operou hoje ainda sob o impacto de dados abaixo do esperado da economia dos EUA divulgados ontem. Além da continuidade de desmonte de posições defensivas construídas durante o impasse em torno do teto da dívida americana, Caciano vê investidores já se preparando para o encontro de política monetária do Federal Reserve na próxima semana.
"Temos ainda desmonte de proteções no câmbio e início de ajuste de carteiras para a reunião do Fed. É possível que o dólar volte a romper os 4,90", diz Caciano, acrescentando que eventual redução da Selic no segundo semestre será pequena e não vai minar o apelo das taxas de juros locais para estrangeiros.
A curva de juros local já espelha quase 100% de chances de redução da Selic em 0,25 ponto porcentual em agosto. Nos Estados Unidos, são amplamente majoritárias as apostas de que o Fed vai manter os FedFunds no intervalo entre 5,00% e 5,25% na semana que vem. As chances de retomada do ciclo de aperto em julho, contudo, já superam os 50%, segundo monitoramento do CME Group.
Além de emergentes latino-americanos, divisas de países desenvolvidos exportadores de commodities também se valorizaram em relação à moeda americana, com destaque para ao dólar australiano, que atingiu maior valor em três semanas. O BC da Austrália surpreendeu ao elevar o juro básico para 4,10% e alertar sobre a possibilidade de mais aumentos.