Após uma tarde de muita oscilação, com trocas constantes de sinal, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 29, em ligeira alta, no patamar de R$ 4,94. O dia foi marcado por disputa pela formação da última Ptax de abril e pela rolagem de vencimento de posições futuras, o que fez o dólar por aqui se descolar em diversos momentos do sinal predominante de queda da moeda norte-americana no exterior tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.
A moeda oscilou quase dez centavos entre a mínima (R$ 4,86) e a máxima (R$ 4,9586). No fim do dia, com tombo das bolsas em Nova York e do Ibovespa, o sinal positivo prevaleceu e o dólar fechou a R$ 4,9427 (+0,06%). A divisa termina a semana em alta de 2,86% e abril com valorização de 3,81%. Depois de subir 4% na sexta-feira, 22, o dólar experimentou altas expressivas nos pregões de segunda (1,47%) e de terça (2,36%) – o que acabou selando o destino da moeda na semana. No ano, a divisa ainda acumula baixa de dois dígitos (-11,36%).
O principal indutor da onda de compra expressiva no início da semana foi o ambiente externo marcado por redução das posições em ativos de risco. A corrida global ao dólar foi amparada em três fatores: perspectiva de alta mais intensa e rápida nos Estados Unidos, alimentada por declarações duras do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell; escalada da guerra na Ucrânia e aumento das tensões entre Ocidente e Rússia, que cortou fornecimento de gás para Polônia e Bulgária; e temores de uma desaceleração mais forte da economia chinesa, dadas as medidas restritivas para conter a covid-19.
"O principal gatilho para esse movimento foi a fala mais dura de Powell. Já está claro que o Fed vai elevar a taxa em 0,50 ponto porcentual. A novidade é que a possibilidade de alta de 0,75 ponto, com discurso de outros dirigentes, foi colocada na mesa. Essas sinalizações aumentaram muito a volatilidade aos preços dos ativos", afirma o diretor de tesouraria do Banco Fator, Bruno Capusso.
Fatores técnicos realimentaram a onda compradora vinda do exterior. Como o mercado cambial doméstico é bem líquido e o real apresentava ganhos robustos, foi o palco ideal para uma realização de lucros. Além disso, analistas relataram desmonte agressivo de posições vendidas no mercado futuro (que ganham com a queda do dólar) por parte de fundos locais, o que teria adicionado pressão maior sobre a taxa de câmbio.
A semana também foi marcada por saída de investidores estrangeiros da bolsa doméstica e pela divulgação de dados do fluxo cambial em março revelando saldo negativo de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro – um atestado da diminuição do apetite externo por ativos locais. Segundo dados da B3, investidores estrangeiros retiraram da bolsa R$ 854,9 milhões (dia 25), R$ 2,498 bilhões (26) e R$ 1,002 bilhão (27). Em abril, as saídas já somam US$ 5,325 bilhões, diminuindo o saldo positivo no ano para R$ 60 bilhões.
"O real era a melhor entre as grandes moedas. Quando veio essa preocupação com a alta dos juros nos Estados Unidos, houve um movimento mais forte de realização de lucros", diz Capusso, do Fator, ressaltando que a moeda brasileira tende a apresentar oscilações mais fortes tanto para cima quanto para baixo, já que o mercado brasileiro tem volume e liquidez elevados.
Para Capusso, após o ajuste pesado entre o fim da semana passada e os dois primeiros pregões desta semana, período em que saiu da casa de R$ 4,60 para o patamar de R$ 4,90, o dólar parece não ter forças para quedas ou altas mais expressivas por aqui. "É mais provável que o real nesse intervalo entre R$ 4,70 e R$ 5", diz.
De um lado, há uma desaceleração do fluxo de recursos estrangeiros para ativos locais, em meio ao ambiente externo mais conturbado. De outro, contudo, a taxa real de juros gorda e o diferencial entre juros internos e externos elevados – mesmo com a possibilidade de postura mais dura do Fed e fim do ciclo de aperto doméstico – dão certa sustentação ao real ao tornar caras posições compradas em dólar.
Após subir nos últimos dias, nesta sexta a moeda americana perdeu força lá fora. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – teve nesta sexta um dia de alívio, embora permanece perto dos 103,000 pontos. O euro, que chegou ao menor nível em cinco anos durante a semana, se recuperou nesta sexta, na esteira do avanço de 5% do PIB da Zona do Euro no primeiro trimestre (comparação anual) e da inflação ao consumidor de 7,5% em março, em linha com o esperado, mas no maior nível da história.
As divisas emergentes avançaram em bloco com certo desafogo no cenário para commodities após autoridades chinesas afirmarem que vão adotar medidas adicionais para sustentar a economia. O preço do minério de ferro subiu 2,29% no porto chinês de Qingdao. Divisas pares do real, com o peso chileno, mexicano e, em especial, o rand sul-africano fecharam em queda firme. O grande destaque foi rublo, com valorização de quase 2%, em meio à decisão do BC da Rússia de cortar a taxa básica do país em três pontos porcentuais, para 14% ao ano.
Nos Estados Unidos, o índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida pelo Fed, subiu 0,9 em março e 6,6% na comparação anual. O núcleo, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, teve alta mensal de 0,3%, em linha com o esperado. Na comparação anual, subiu 5,2%, ligeiramente abaixo das previsões (5,3%). Chamou a atenção o avanço de 1,1% dos gastos com consumo em março, enquanto a expectativa era de +0,07%. Já a renda pessoal subiu 0,5%, ante previsão de 0,4%.
As taxas dos Treasuries subiram em bloco com investidores realinhando as expectativas para os próximos passos do Fed. É dada como certa uma alta de 0,50 ponto porcentual na taxa básica na quarta-feira, 4, em um comunicado duro. Há especulações em torno de eventual indicação de que a elevação em junho seja maior, de 0,75 ponto, na próxima reunião e da possibilidade da política monetária ir para campo restritivo até o fim do ano.