Uma piora de humor nos mercados internacionais ao longo da tarde desta sexta-feira, 22, com ampliação das perdas das bolsas em Nova York e alta da moeda americana frente ao euro e a boa parte das divisas emergentes, fez com que o dólar abandonasse o sinal negativo no mercado doméstico de câmbio e encerrasse o dia em ligeira alta, tendo tocado o patamar de R$ 5,50 nas máximas da sessão.
Uma vez mais, os negócios nos mercados foram pautados por temores de desaceleração mais forte da atividade global, após indicadores fracos na Europa e, especialmente, nos Estados Unidos. Depois de o Banco Central Europeu (BCE) surpreender ontem ao elevar a taxa de juros em 50 pontos-base, as atenções se voltam ao Federal Reserve, que anuncia sua decisão de política monetária na quarta-feira (27).
Já está na conta uma nova alta de 75 pontos-base dos Fed Funds. Os indicadores recentes jogam dúvidas sobre o ciclo total de aperto, uma vez que a atividade dá sinais de enfraquecimento, mas a inflação corrente segue elevada. As taxas dos Treasuries recuaram mais de 3% hoje, com a T-note de 10 anos abaixo da linha de 2,80%.
O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 52,3 em junho para 47,5 em julho, atingindo o menor nível em 26 meses. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade.
Pela manhã, o real até se fortaleceu, escorado na alta dos preços das commodities e na perda momentânea de força da moeda americana lá fora na esteira da deterioração dos indicadores econômicos. Segundo operadores, tesourarias aproveitaram o ambiente externo para ajustar posições e realizar lucros acumulados na rodada recentes de valorização do dólar.
À medida que o caldo entornava lá fora, o real perdia fôlego. Até que o dólar trocou de sinal e passou a operar em leve alta, correndo até máxima a R$ 5,5045. No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 5,4988 (+0,05%). Assim, o dólar fecha a semana com avanço de 0,72%, levando a valorização em julho a 5,04%.
Para o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, o dólar não se sustenta acima da linha de R$ 5,50 e pode se acomodar em um nível "um pouco mais baixo" nas próximas semanas. "Mas devemos ter muita volatilidade, porque ainda há muita incerteza sobre o desempenho da economia global, com esse processo de alta de juros nos Estados Unidos e agora também na Europa", afirma Rolha.
Termômetro do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY chegou a descer até a casa dos 106,100 pontos sob impacto do tombo do PMI dos EUA, mas se recuperou e, no fim do dia, rodava no patamar dos 106,700 pontos, em queda de cerca de 0,30%. Isso se devia basicamente as perdas de mais de 0,80% da moeda americana frente ao iene japonês. O euro até esboçou uma leve alta ante o dólar, mas acabou sucumbindo à tarde e amargava queda ao redor de 0,20%. O PMI composto da zona do euro caiu de 52 em junho para 49,4 em julho, menor nível em 17 meses.
"Essa piora do dólar à tarde é pura volatilidade. O mercado está sem rumo e apenas ajustou posições para o fim do dia e da semana", afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, que, apesar do resultado ruim do PMI americano, vê como exagerados os temores de recessão nos Estados Unidos, uma vez que o mercado de trabalho continua forte.
Para Vieira, o clima de instabilidade global tende a manter o dólar bem posicionado ante divisas fortes e emergentes, com alguns ajustes pontuais em relação a moedas específicas, como no caso do iene, que já apanhou muito pela política monetária frouxa da autoridade monetária japonesa.
"O cenário está muito adverso para o investidor estrangeiro, que não consegue fazer uma alocação direcional e mantém posições pequenas em países emergentes, cujas moedas acabam se depreciando", diz Vieira, para quem os fatores domésticos têm peso hoje muito reduzido na formação da taxa de câmbio.