Estadão

Dólar fecha acima de R$ 5,20 com aversão a risco após quebra de banco nos EUA

O dólar subiu mais de 1% no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 10, e voltou a fechar acima de R$ 5,20. Dados mistos do relatório de emprego (payroll) nos EUA esfriaram um pouco as apostas em torno da possibilidade de que o Federal Reserve acelere o passo e anuncie neste mês uma alta da taxa de juros em 50 pontos-base – o que abriu espaço para uma baixa do dólar frente a pares fortes. Sinais de estresse no setor financeiro americano com o fechamento do Silicon Valley Bank (SVB) – o maior banco dos EUA a quebrar desde a crise financeira de 2008 – provocaram, contudo, deterioração dos ativos de risco que respingou em moedas emergentes.

Por aqui, o Ibovespa, já abalado pela divulgação do IPCA de fevereiro acima do esperado, acentuou as perdas à tarde com a degringolada das bolsa em Nova York, o que contribuiu para aumentar a pressão sobre o real. Em tal cenário, agentes correram para realizar lucros acumulados com a moeda brasileira e recompor posições defensivas, uma vez que o dólar apresentava queda de 1,12% na semana até ontem, movimento atribuído em grande parte ao otimismo com a expectativa pelo anúncio do novo arcabouço fiscal.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez pronunciamento hoje à tarde, mas para anunciar compensação da União aos Estados pelas perdas de arrecadação com mudança do ICMS. O ministro informou que apresentará a nova regra fiscal na próxima semana a Lula, a quem caberá "a palavra final". Pela manhã, o presidente disse que Haddad "é criativo" e vai "arrumar recursos" para o governo investir em infraestrutura.

Com sinal positivo desde a abertura dos negócios, o dólar encerrou a sessão em alta de 1,30%, cotado a R$ 5,2082 com máxima a R$ 5,2203, à tarde. A arrancada de hoje foi suficiente para anular as perdas de ontem e levou a divisa a terminar a semana com ganhos de 0,15%. No acumulado dos oito primeiros pregões de fevereiro, contudo, o dólar ainda recua (-0,32%).

"A moeda brasileira apresenta um dos piores desempenho frente ao dólar, em uma sessão marcada pela ansiedade em torno do setor bancário americano, incerteza sobre altas de juros com dados ambíguos do payroll e também desconforto com a inflação mais forte do que o esperado aqui no Brasil", diz CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo.

Divulgado pela manhã, o payroll mostrou criação de 311 mil vagas em fevereiro, acima da mediana (220 mil) e do teto (300 mil) de Projeções Broadcast. De outro lado, a taxa de desemprego subiu de 3,4% em janeiro para 3,6% no mês passado, ante previsão de estabilidade. Além disso, o salário hora subiu menos que o esperado na comparação mensal e anual.

"Os dados de salário e horas trabalhadas vieram um pouco mais baixos, o que se reflete na inflação. O mercado avalia que talvez o Fed não acelere o ritmo. Ainda assim, estamos vendo um mercado de trabalho muito forte e robusto", afirma o economista-chefe da RPS, Victor Candido, sobre o payroll.

Por aqui, o IPCA acelerou de 0,53% em janeiro para 0,84% em fevereiro, dentro do intervalo de Projeções Broadcast (de 0,67% a 0,89%), mas acima da mediana (0,78%). Embora já se esperasse aceleração do índice, analistas dizem que a composição e os núcleos mostram que não está em curso um processo de desinflação. Isso reduz o espaço para que o Banco Central inicie um processo de corte da taxa Selic ainda no primeiro semestre.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a perspectiva de manutenção de diferencial de juros interno e externo ainda elevado estimula as operações de carry trade e, ao lado da melhora dos preços das commodities, abriria espaço para queda do dólar no mercado doméstico. De outro lado, o ambiente ainda de incertezas políticas e fiscais jogam contra a moeda brasileira.

"Sem um fato novo mais forte, o real fica volátil, oscilando dentro desse range que estamos vendo entre R$ 5,00 e R$ 5,25. O que pode fazer a taxa de câmbio mudar de patamar é efetivamente uma melhora na percepção doméstica. Ou uma piora muito grande de percepção de risco global", afirma Lima, que não se diz otimista com o novo arcabouço fiscal gestado pelo Ministério da Fazenda. "Deve diminuir a possibilidade de uma deterioração rápida do fiscal, mas vai manter a incerteza sobre a convergência da dívida. O presidente diz que investimento não é gastos e que o Haddad se vire e seja criativo para arranjar dinheiro".

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