Estadão

Dólar fecha em queda de 0,13% de olho no fiscal e à espera do Copom

Em um dia marcado por muita volatilidade e expectativa pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o dólar trocou de sinal algumas vezes ao longo do pregão, à medida que investidores assimilavam dados da economia norte-americana e monitoravam o noticiário político doméstico carregado, com especulações sobre o tamanho do reajuste do Bolsa Família e o andamento da reforma do Imposto de Renda.

Operadores afirmam que o mercado segue muito sensível à questão fiscal, que acaba preponderando na formação da taxa de câmbio, a despeito da influência vinda do exterior. Mesmo com a moeda americana em alta na comparação com divisas emergentes pares do real, como o rand sul-africano e o peso mexicano, o dólar perdeu força por aqui à tarde.

Com mínima de R$ 5,1610 (pela manhã) e máxima de R$ 5,2459 (no início da tarde), o dólar à vista encerrou o pregão em queda de 0,13%, a R$ 5,1858. Nos três primeiros pregões de agosto, a moeda norte-americana acumula recuo de 0,46%.

O arrefecimento do ímpeto altista do dólar ao longo da tarde se deu à medida que o mercado absorveu a informação (apurada com fontes pelo Broadcast – sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) de que a equipe econômica não trabalha com a possibilidade de aumentar o Bolsa Família a R$ 400, mesmo levando em conta uma eventual aprovação da PEC dos Precatórios (com parcelamento no pagamento de R$ 90 bilhões em precatórios neste ano) – o que, em tese, abriria espaço para mais gastos no Orçamento de 2022.

A PEC dos Precatórios, já pronta para ser enviada ao Congresso, também traria um fundo com dinheiro de privatizações para pagar esses débitos e também turbinar benefícios sociais. Esse fundo estaria fora do teto de gastos, segundo o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), para quem a PEC dos Precatórios não representa um "calote".

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro havia dito, em entrevista a uma rádio de Natal (RN) que o valor do Bolsa Família poderia chegar a "no mínimo R$ 300" e que o "ideal seria R$ 400". Bolsonaro também acenou com implantação de um vale-gás, com recursos de um fundo de R$ 3 bilhões da Petrobras, apesar das resistências da empresa.

"O mercado está exigindo mais prêmio muito por conta da questão fiscal, especialmente com essa questão do Bolsa Família. O presidente está atrás nas pesquisas para as eleições de 2022 e quer recuperar a popularidade com programas sociais, mas não se sabe de onde vai vir o dinheiro", afirma Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.

Operadores também notaram movimento de realização de lucros e ajustes de posições na reta final dos negócios por partes de investidores à espera da decisão do Copom no período da noite desta quarta. A avaliação é a de que eventual aceleração do aperto monetário, com alta de 1 ponto porcentual da Selic, para 5,25%, e um tom mais duro do Copom podem desestimular parte das apostas contra o real.

Para Iha, da Fair, boa parte do aperto monetário já está embutida no valor da taxa de câmbio e, com o aumento da percepção de risco, é difícil imaginar que vá haver um grande fluxo de recursos para a renda fixa apesar dos juros mais elevados.

Na avaliação do especialista em câmbio da Valor Investimentos, Rafael Ramos, o risco político tende a se exacerbar nos próximos meses, com o debate eleitoral esquentando à medida que o fim do ano se aproxima. Além disso, haverá uma combinação de juros mais altos e inflação elevada. "O dólar deve ficar entre R$ 5,15 e R$ 5,30 agora, mas pode ter uma puxada mais forte no fim do ano", afirma Ramos.

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