Com aprofundamento das perdas nas duas últimas horas de negócios, o dólar emendou na sessão desta sexta-feira, 8, o segundo pregão consecutivo de queda firme e encerrou a semana com recuo de 1%, voltando a ser negociado abaixo da linha de R$ 5,30. No momento de mais estresse na semana, na quarta-feira (6), a divisa chegou a tocar R$ 5,46 e fechou acima da linha de R$ 5,40, níveis de fins de janeiro.
Segundo operadores, o ambiente de recuperação de preços de commodities e a diminuição da busca pela moeda americana no exterior, dada a redução dos temores de recessão nos EUA, abriram espaço para ajustes e realização de lucros no mercado doméstico de câmbio. Também haveria redução das incertezas fiscais com a perspectiva de aprovação da PEC dos Benefícios na Câmara dos Deputados na semana que vem sem inclusão de mais benesses em relação ao texto que saiu do Senado.
Afora uma alta pontual pela manhã, na esteira da divulgação de dados fortes do mercado de trabalho dos EUA em junho, o dólar operou com sinal negativo ao longo de toda a sessão. Entre mínima a R$ 5,2606 e máxima a R$ 5,3691, a moeda fechou cotada a R$ 5,2680, em baixa 1,44%. Apesar de acumular queda de 2,83% nos dois pregões de ontem e hoje e ter encerrado a semana com perda de 1%, o dólar ainda apresenta valorização em julho (+0,63%).
"O real tenta se recuperar hoje após beliscar R$ 5,46 na semana com receios em relação ao quadro fiscal brasileiro. O cenário é de muita volatilidade, mas o câmbio naquelas bandas estava bastante exagerado e poderia sofrer um ajuste a qualquer momento", afirma, em nota, o diretor de produtos de câmbio da Venice, André Rolha. "Parece que R$ 5,45 é uma barreira técnica para o dólar buscar patamares mais elevados como vimos em dezembro de 2021".
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – passou a tarde em leve queda, mas ainda em níveis elevados, no limiar dos 107,000 pontos. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o dólar teve comportamento misto, com o real ostentando os maiores ganhos.
Pela manhã, o relatório de emprego nos EUA (payroll) mostrou criação de 372 mil vagas em junho, bem acima do esperado (275 mil vagas). Com a pujança do mercado de trabalho, tornou-se quase unânime a aposta de que o Federal Reserve vai promover nova alta de 75 pontos-base na taxa básica americana em seu encontro neste mês. Por outro lado, reduziram-se os temores de uma degringolada da atividade nos EUA.
Não por acaso, o apetite ao risco começou a se recuperar após o BC americano não mencionar em sua ata, divulgada na quarta-feira (6), a palavra recessão. A mensagem foi reiterada ontem por dirigentes do Fed, como o presidente da distrital de St. Louis, James Bullard, que vê grandes chances e um "pouso suave" da economia americana.
A sensibilidade ao tema é tamanha que o mercado chegou a azedar pontualmente no início da tarde após o presidente do Fed de Nova York, John Willians, dizer que o "forte compromisso" do BC americano é levar a inflação à meta de 2% e alertar que o crescimento deve desacelerar "de modo considerável" neste ano.
Para a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, o real surpreendeu nesta semana ao ter um desempenho relativo melhor que seus pares, em meio a um ambiente ainda de dólar forte no exterior, com o índice DXY acima dos 106,00 pontos. A moeda brasileira, avalia, pode ter se beneficiado de uma recuperação marginal das cotações das commodities, que ainda acumulam queda "razoável" no período de 30 dias. Além disso, o fato de a Câmara não ter incorporado novos gastos ao texto da PEC dos Benefícios não deixa de ser uma "notícia um pouco melhor, em um mar de notícias ruins para o risco fiscal".
"Pode ter tido algum fluxo potencializando a recuperação relativa do real. Mas é algo de curto prazo. A tendência estrutural ainda é de depreciação, seja pelo dólar forte no exterior, seja pelo cenário doméstico de elevação do risco fiscal", afirma Damico, que vê a taxa de câmbio voltando ao patamar de R$ 5,30 e "eventualmente" até R$ 5,40.
Por aqui, as atenções estiveram voltadas à divulgação do IPCA de junho, que registrou alta de 0,67%, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,71%). No ano, o IPCA avança 5,49%. Em doze meses, o índice acumula alta de 11,89%. Com as desonerações de tributos sobre combustíveis, como a imposição de um teto para o ICMS, analistas esperam que o IPCA apresente em julho a primeira deflação desde maio de 2020.