O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 6, em alta de 1,64%, cotado a R$ 4,9299 – maior valor de fechamento desde 5 de junho. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e avanço dos retornos dos Treasuries. Dados fortes da economia americana, em especial do mercado de trabalho, reforçaram as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) promoverá novas altas da taxa de juros neste ano.
Por aqui, houve desconforto com a especulação em torno de suposto adiamento para agosto da votação final do novo arcabouço fiscal e do projeto de lei do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dá prioridade à reforma tributária. Com o mercado spot já fechado, Lira garantiu que o tema vai ao plenário da Casa ainda hoje.
No início da tarde, em meio a informações desencontradas vindas de Brasília sobre o calendário de votação das pautas econômicas, o dólar acelerou o ritmo de alta e chegou a tocar pontualmente os R$ 4,95, ao registrar máxima a R$ 4,9506 (+2,07). Com a alta de hoje, a moeda emendou o quarto pregão consecutivo de avanço no mercado doméstico e já acumula valorização de 2,93% na semana.
"Houve um exagero na queda do dólar em junho. Não se sabe o que vai sair dessa reforma tributária. Tem risco de a votação do arcabouço e do Carf ficar para depois do recesso parlamentar A verdade é que o governo pode ter dificuldade em cumprir a meta fiscal logo no primeiro ano", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que não acredita em taxa de câmbio abaixo de R$ 4,80. "Hoje, tivemos impacto externo, com aposta em aumento de juros pelo Fed e queda das commodities. Mas o cenário local é preocupante e também contribuiu para a alta do dólar".
Principal referência do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto teve volume expressivo, acima de US$ 18 bilhões, o que sugere mudanças relevantes nas posições dos agentes. Investidores estrangeiros, que passaram junho "vendidos" em dólar futuro, viraram a mão neste início de mês e estão agora estão levemente "comprados".
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, vê peso maior do ambiente externo no movimento de depreciação do real hoje. Apesar do estresse nos últimos dias, ele acredita que o dólar pode voltar a operar abaixo de R$ 4,80 e renovar mínima do ano no fechamento ao longo do segundo semestre.
Segundo Weigt, quando houver mais segurança sobre qual será a taxa terminal de juros nos EUA, os retornos dos Treasuries podem recuar, abrindo espaço para nova rodada de valorização das divisas emergentes. Por aqui, estrangeiros podem desmontar parte do hedge cambial expressivo e voltarem à ponta vendida no mercado de dólar futuro.
"Não descarto nova mínima no ano. Pelo movimento do cupom cambial, desde a rolagem do mês passado, os institucionais locais e estrangeiros começaram a zerar as posições vendidas em dólar. Em algum momento, podem voltar a ficar vendidos", diz o tesoureiro do Travelex.
A onda de fortalecimento do dólar frente a moedas emergentes e de países exportadores de commodities abalou mais as divisas latino-americanas. As maiores perdas, na casa de 2%, foram do peso colombiano, que ainda acumula, contudo, alta de cerca de 12% no ano. Em seguida, aparecem o real e o peso mexicano. Trata-se de um conjunto de divisas de países que oferecem taxas de juros elevados, as chamas moedas de carrego , e que podem embarcar em um ciclo de afrouxamento monetário nos próximos meses, na contramão do que acontece nos Estados Unidos e na Europa.