O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 3, praticamente estável, na casa de R$ 5,27, em um pregão marcado por instabilidade e trocas de sinal, com investidores digerindo dados da economia norte-americana e declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA). Por aqui, o mercado dá como certo que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai anunciar nesta quarta à noite elevação da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. A dúvida é se o BC deixará a porta aberta para alta adicional dos juros em setembro.
Pela manhã, o dólar até ensaiou uma arrancada ao romper o patamar de R$ 5,30, em sintonia com o fortalecimento da moeda norte-americana lá fora, na esteira de declarações do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard. Tido como integrante mais conservador do BC americano, Bullard afirmou que ainda espera ver a taxa básica de juros no país – hoje na faixa entre 2,25% e 2,50% – atingir de 3,75% a 4%. "Prefiro que os aumentos de juros sejam antecipados", afirmou Bullard.
Além disso, o índice ISM de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) de Serviços nos EUA em julho e as encomendas à indústria em junho vieram acima do esperado – o que, em tese, mostra resiliência da atividade e autoriza do Fed a se concentrar no combate à inflação. As tensões geopolíticas desencadeadas pela visita (encerrada nesta quarta) da presidente da Câmara dos Representantes do EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan continuam no radar, embora tenham tido mens influência nos negócios desta data.
A maré virou no início da tarde à medida que o dólar reduzia os ganhos frente a outras moedas fortes e passava a recuar em relação a divisas emergentes pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano. Esse movimento se dava em meio à desaceleração da alta dos retornos dos Treasuries e aprofundamento das perdas do petróleo, que rompeu o piso de US$ 100 o barril.
Ao discurso duro de Bullard se contrapôs um tom mais ameno da presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daily, para quem uma alta de 50 pontos-base dos Fed Funds em setembro é uma hipótese "razoável" em razão dos indicadores disponíveis no momento. Daily não descartou, contudo, a possibilidade de nova elevação de 75 pontos-base.
Após oscilar entre os terrenos positivos e negativo na última hora de negócios, o dólar encerrou a sessão a R$ 5,2780 (-0,02%), com mínima a R$ 5,2456 e máxima a R$ 5,3163.
Depois de cair 5,90% na semana passada, a divisa já acumula alta de 2% nos três primeiros pregões desta semana. No ano, as perdas são de 5,34%. O pregão foi de liquidez reduzida, com o contrato futuro de dólar para setembro – principal termômetro do apetite por negócios – movimentando por volta de US$ 10 bilhões.
Segundo a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, os mercados ainda refletem certa preocupação com as tensões entre China e Estados Unidos, enquanto assimilam as declarações de dirigentes do Fed. "O mercado continua operando de olho no alcance do aperto da política monetária nos Estados Unidos. Tem também certa cautela com a decisão do Copom. Embora seja esperada uma alta de 0,50 ponto, há dúvida sobre o tom do comunicado", diz Consorte, acrescentando que o início da campanha presidencial pode adicionar volatilidade à taxa de câmbio.
Para a equipe do BTG, o Fed não terá "espaço para abaixar o tom hawkish e permanecerá com a preocupação com a estabilidade dos preços". A previsão da casa é de que a taxa básica americana encerre 2022 no intervalo entre 3,5% e 3,75% – o que favorece o dólar globalmente e, por tabela, sugere manutenção das moedas emergentes, como o real, em níveis depreciados.
Em seu cenário base, que traz taxa Selic a 14% no fim deste ano, os estrategistas do banco veem taxa de câmbio a R$ 4,80 em dezembro. Eles observam, contudo, que o "quadro global e fiscal doméstico neste momento" é compatível com dólar no patamar de R$ 5,20. "Nosso modelo alternativo de alta frequência nos mostra que o patamar atual (R$ 5,25) deve permanecer ao menos até meados do mês de setembro, quando esperamos movimento de depreciação do real devido à nova decisão do Fomc e à proximidade do pleito eleitoral no Brasil", afirma a equipe do BTG.