Após ensaiar uma rodada de alta pela manhã, em meio a perdas de divisas emergentes diante da decepção com a nova meta de crescimento anunciada pela China, o dólar se firmou em baixa no mercado doméstico de câmbio ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 6, em queda de 0,58%, cotado a R$ 5,1699. Houve variação de cerca de cinco centavos entre mínima (R$ 5,1622) e máxima (R$ 5,2176). Nos quatro primeiros pregões de março, a moeda americana acumula desvalorização de 1,05%.
Operadores atribuíram o desempenho do real hoje a fluxo pontual de recursos estrangeiros para a bolsa doméstica e a desmonte parcial de posições defensivas no mercado futuro de câmbio. Agentes apararam prêmios de risco embutidos na taxa de câmbio à espera do anúncio da regra fiscal que vai substituir o teto de gastos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje à tarde que "fechou" o novo arcabouço internamente, mas ainda não o apresentou ao presidente Lula, com quem se reuniu pela manhã para tratar do Desenrola, o programa de renegociação de dívidas. A intenção é que a proposta seja divulgada antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês (dias 21 e 22).
Haddad disse também que apresentou nomes para ocupar diretorias do Banco Central a Lula e que tem mantido conversas com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o tema. Há, no momento, dois mandatos que expiraram em 28 de fevereiro: o de diretor de Fiscalização, Paulo Souza, e o de Política Monetária, Bruno Serra. Souza tem disposição de renovar o mandato, mas Serra já indicou que vai deixar o órgão.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que não houve indicadores macroeconômicos que justificassem uma rodada de apreciação do real, que acabou destoando hoje das perdas da maioria das divisas emergentes. "Parece que o mercado reagiu bem às falas de Haddad sobre a perspectiva de anúncio do novo arcabouço fiscal, embora ele não tenha dado detalhes nem apresentado o plano ao Lula. Isso acabou contribuindo para a queda do dólar por aqui hoje", afirma.
No exterior, o índice DXY teve leve recuo, em especial por conta da recuperação do euro, após nova rodada de falas duras de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE). A maioria das divisas de países emergentes e de países exportadores de commodities perderam força em relação ao dólar, com exceção do real e dois de seus pares, o peso chileno e o colombiano.
As atenções estão voltadas nesta semana à fala, amanhã, do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, no Senado americano, e à publicação, na sexta-feira, do relatório de emprego americano (payroll). Após uma rodada mais forte de dados de atividade e sinais de arrefecimento lento da inflação, investidores passaram a trabalhar com taxas de juros terminais mais altas no atual ciclo de aperto monetário conduzido pelo Fed.