Após operar entre leve alta e estabilidade no período da manhã, o dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 9, cotado a R$ 5,1300, em baixa de 0,62%, com mínima a R$ 5,1220. A virada no mercado de câmbio doméstico se deu diante da retomada do apetite ao risco no exterior, com alta firme das bolsas em Nova York, na esteira de fala de dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sugerindo menos espaço para nova alta dos juros.
Foi ventilada também a informação de que o grupo palestino Hamas estaria disposto a negociar uma trégua com Israel. Em pronunciamento, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que vai atacar o Hamas com "forças nunca vistas antes".
Nos primeiros minutos do pregão, o dólar chegou até a ensaiar uma alta firme, com máxima a R$ 5,1824, em meio a temores geopolíticos. Israel responde a ataque do Hamas ao seu território com bombardeio aéreo e bloqueio terrestre à Faixa de Gaza, controlada pelo grupo palestino. Operadores observam que a ausência dos negócios com Treasuries, em razão do feriado do Dia de Colombo nos EUA, diminuiu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita ao impacto de operações pontuais.
As cotações do petróleo, que amargaram forte queda na semana passada, subiram mais de 4% diante de preocupações com a oferta, mas respeitaram o teto de US$ 90 o barril. O contrato do Brent para dezembro fechou em alta de 4,22%, a US$ 88,15.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, observa que o fato de o mercado de Treasuries estar fechado impede uma leitura mais clara dos efeitos do conflito sobre a percepção de risco dos investidores. "De qualquer forma, existe um aumento das incertezas. Dentro de três ou quatro dias, vamos entender o real impacto sobre os ativos. Tudo vai depender se o conflito vai transbordar para outros países do Oriente Médio, como o Irã, já que a região é grande produtora de petróleo", afirma Sung.
Embora o Irã seja visto como um apoiador do Hamas na região, autoridades do país negaram envolvimento com o ataque do grupo palestino a Israel. A possibilidade de que o Irã seja tragado pelo conflito preocupa, uma vez que o país abriga o Estreito de Ormuz, localizado entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico e por onde é escoado cerca de 20% de todo o petróleo consumido no mundo.
"Se tivermos uma escalada da guerra, principalmente com o Irã sendo arrastado para dentro do conflito, podemos ter alta mais forte do petróleo e um choque inflacionário", diz o estrategista-chefe da Guide Investimentos, Alex Lima, ressaltando que, nos últimos dois meses, a inflação americana já havia sido "contaminada" pela alta dos preços dos combustíveis. "Por enquanto, a reação dos preços dos ativos é relativamente branda, com o mercado de juros nos EUA fechado. Tem potencial para piorar se o conflito se estender."
Parte relevante do alívio do mercado à tarde veio de sinais mais amenos em relação à a política monetária norte-americana. Com voto nas decisões do Fed, o vice-presidente do BC americano, Philip Jefferson, disse nesta segunda-feira que pode ser cedo para garantir que o aperto já realizado vai levar a inflação à meta de 2% ao ano, mas ressaltou que levará em conta indicadores econômicos e também o nível das taxas dos Treasuries em suas próximas decisões.
Segundo Jefferson, a inflação, embora ainda "muito elevada", traz sinais "encorajadores". Ele afirmou também que atuará com cautela ao avaliar a necessidade de mais alta de juros. "Olhando para frente, continuarei consciente do aperto das condições financeiras por meio de juros mais altos em títulos de dívida e vou manter isso em mente ao avaliar a trajetória futura das taxas", disse o vice-presidente do Fed.