Após ensaiar uma queda firme pela manhã, quando registrou mínima a R$ 4,9510, e operar em baixa ao longo da maior parte da tarde, o dólar tocou pontualmente o terreno positivo nos últimos minutos da sessão e acabou terminando o dia cotado a R$ 4,9864, praticamente estável (-0,01%). A moeda apresenta ganhos de 1,68% na semana e de 5,43% no mês.
A perda de fôlego do real se deu em meio à deterioração do ambiente externo, com aprofundamento das perdas das bolsas em Nova York e avanço mais forte das taxas dos Treasuries na esteira da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Principal par da moeda brasileira, o peso mexicano, que parecia escapar do sinal predominante da alta da moeda americana lá fora, também sucumbiu no fim da tarde.
Termômetro do desempenho do dólar frente divisas fortes, o DXY acelerou na segunda etapa de negócios e renovou máxima, aos 103,525 pontos. Em seu documento, o BC americano mostrou desconforto com a inflação ainda elevada, reiterou que seus próximos passos dependem dos dados que estão por vir, mas fez alertas para a incerteza em torno de um aperto ainda mais forte da política monetária.
A equipe técnica do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) atualizou suas projeções para a economia americana em julho, eliminando previsão de recessão neste ano e atribuindo riscos de alta para a inflação. As taxas das T-Notes de 10 anos renovaram máximas após a divulgação da ata, com o retorno do papel superando 4,27%.
Após publicação da ata, a ferramenta FedWatch, do CME Group mostram que as chances de que a taxa básica americana termine o ano na faixa atual (entre 5,25% e 5,50%) apresentaram leve alta, de 57,5% para 60%. Para a decisão de setembro, as apostas são de quase 90% em manutenção dos Fed Funds.
Sócio e gestor da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli afirma que as moedas latino-americanas de países com juros altos, como o real, devolveram em agosto parte dos ganhos acumulados no ano em razão da alta das taxas dos Treasuries e dados decepcionantes da China, que enfrenta um desaquecimento expressivo do setor imobiliário.
Monoli observa que a economia americana "ainda está quente" e a inflação pode ter "um repique", o que leva à perspectiva de que a taxa de juros nos EUA possa permanecer elevada por mais tempo. Há também aspectos técnicos, como forte volume de emissão de títulos pelo Tesouro americano, que estão provocando uma alta das taxas longas e "sugando" dólar do sistema financeiro.
"A abertura da curva americana atrapalha muito os emergentes e, ao lado da China, explica essa alta de 5% do dólar no mês. O ambiente externo tem peso relevante. Se der uma acalmada, o real tende a se apreciar novamente, com diferencial de juros ainda alto e ambiente interno mais arrumado, apesar dos ruídos entre Lira e Haddad", afirma Monoli, em referência aos atritos recentes entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Parte da recuperação do real pela manhã foi atribuída por operadores ao fato de Lira ter dito na terça-feira à noite que a votação final do arcabouço fiscal pode ocorrer na próxima terça-feira, 22. Aprovado o novo marco fiscal, o mercado vai monitorar com lupa o cumprimento das metas para o resultado primário, que dependem em grande parte do aumento de receitas.