O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 15, em alta de 0,18%, cotado a R$ 4,8662, interrompendo uma sequência de três pregões seguidos de baixa. Na máxima, pela manhã, a divisa atingiu R$ 4,8865. Operadores afirmam que o fortalecimento da moeda americana no exterior e a queda das commodities, em especial do minério de ferro, abriram espaço para uma realização de lucros no mercado doméstico de câmbio.
O ímpeto comprador perdeu força ao longo da tarde com a virada do Ibovespa para o campo positivo e a diminuição das perdas do petróleo. Com as bolsas em Nova York e o mercado de Treasuries fechados, em razão do feriado de Martin Luther King Jr. nos Estados Unidos, a liquidez foi reduzida, o que deixou a formação da taxa mais sujeita a operações pontuais. Principal termômetro do apetite, o dólar futuro para fevereiro movimentou menos de US$ 7 bilhões.
Referência do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes, o índice DXY operou em alta moderada ao longo do pregão e rondava os 102,500 pontos, com máxima pela manhã, aos 102,674 pontos, quando o euro perdia valor, na esteira da retração do PIB da Alemanha em 2023 e da produção industrial da zona do euro em novembro.
Entre as commodities, as cotações do petróleo recuaram, com o tipo Brent para março em queda de 0,18%, a US$ 78,15 o barril. Destaque negativo para o recuo de mais de 3% do minério de ferro para maio, na bolsa de Dailan, após a decisão do Banco do Povo da China de manter inalteradas taxas de juros de linhas de crédito e médio prazo.
Em dia de agenda doméstica esvaziada, operadores citaram certo desconforto pela manhã com a projeção de déficit primário no boletim Prisma Fiscal de janeiro. Os analistas de mercado ouvidos mensalmente pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda projetam que o governo entregará um resultado primário com déficit de R$ 86,143 bilhões em 2024, longe da meta de zerar o déficit primário prevista no novo arcabouço fiscal.
Neste momento, as atenções se voltam à queda de braço entre a equipe econômica e o Congresso em torno da prorrogação desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia até 2027. Após parlamentares derrubarem veto do presidente Lula ao prolongamento do benefício, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs uma Medida Provisória para reoneração gradual, o que desagradou o Congresso.
Haddad disse hoje à tarde que levará ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a estimativa da renuncio fiscal que envolve a desoneração. O ministro chamou a atenção para o fato de o orçamento federal ter sido aprovado sem previsão de renúncia, o que compromete os esforços do governo para zerar o déficit. Depois de ameaças do Congresso de "devolver a MP", foi ventilada a possibilidade de o governo voltar atrás e enviar um projeto de lei. A reunião entre Haddad e Pacheco começou há pouco.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o Congresso não vai aceitar a MP, frustrando parte das expectativas de receita do governo, que será obrigado a fazer um contingenciamento de despesas em março.
"A alternativa de tributação sobre as compras online do exterior deve ter impacto limitado, caso seja aprovada. Mantenho previsão de um déficit primário de 1,27% do PIB em 2024. Zerar o déficit seria quase um milagre", afirma Velho, para quem, por ora, o mercado de câmbio tem deixando os riscos fiscais domésticos em segundo plano.