A instabilidade marcou os negócios no mercado doméstico de câmbio na sessão desta quarta-feira, 8. Após uma manhã e início da tarde de muitas trocas de sinal, o dólar se firmou em alta nas últimas horas dos negócios e fechou na casa de R$ 4,89, em meio à aceleração dos ganhos da moeda americana ante pares, sobretudo o iene, e à piora das Bolsa em Nova York.
Segundo operadores, o real segue pressionado pela reprecificação do risco fiscal doméstico, na esteira do plano do governo para reduzir os preços de combustíveis, e pela piora do apetite ao risco no exterior. Crescem os temores de que a economia global amargue um quadro de estagflação diante da disparada do petróleo e do aperto monetário em diversos países, em especial nos Estados Unidos.
Na outra ponta, favoreceria a moeda brasileira a reabertura da economia chinesa, que tende a dar sustentação aos preços das commodities e, por tabela, contribuir para fluxo comercial. Além disso, a taxa de juros doméstica elevada torna muito custosas apostas contra o real e tende a atrair capitais de curto prazo.
Não por acaso, a mínima da moeda pela manhã, a R$ 4,8483 (-0,53%), foi atribuída a fluxo de capital externo pontual para ativos domésticos e a ajustes no mercado futuro. Na máxima, também na primeira etapa de negócios, o dólar chegou a superar o teto de R$ 4,90, ao atingir R$ 4,9078 (+0,69%). No fim da sessão, a divisa avançava 0,33%, cotada a R$ 4,8901. Com isso, o dólar já acumula valorização de 2,33% nesta semana e de 2,89% neste início de junho. No ano, as perdas são de 12,30%. A liquidez foi reduzida, com o contrato de dólar futuro para julho, principal termômetro do apetite por negócios, girando pouco mais de US$ 10 bilhões.
"Essa preocupação com a questão fiscal está se refletindo no câmbio. O pacote dos combustíveis parece uma manobra eleitoral. Os estados vão perder arrecadação e não se sabe como será ao certo a compensação", afirma a economista Bruno Centeno, especialista da Blue3.
Reunião nesta quarta entre secretários de Fazenda dos Estados e o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), relator do projeto de lei (PLP 18) que fixa teto de 17% para o ICMS sobre combustíveis e energia, terminou sem acordo. Os principais pontos de discordância são o nível de compensação da União aos Estados pela perda de receita e uma eventual "modulação" no corte da alíquota do tributo.
Apesar da falta de alinhamento com os governos estaduais, Bezerra apresentou seu parecer, mantendo basicamente os pontos do texto aprovado na Câmara dos Deputados. Entre os acréscimos e mudanças, houve inclusão da zeragem de PIS/Cofins sobre gasolina e álcool hidratado. Estados sem dívidas com a União serão contemplados com compensação. Já os estados endividados terão compensação via serviço da dívida (juros), e não pelo estoque.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, acredita que o "contexto político" e a inflação elevada devem levar o Congresso a aprovar o pacote de zeragem de tributos sobre combustíveis. Ele alerta que as fontes de compensação fiscal aos Estados ainda "dependem de receitas duvidosas", como recursos da privatização da Eletrobras e tamanho da arrecadação federal. "Privatização é para abater dívida e não para financiar gastos ou compensação para Estados. E ainda temos o risco grande de judicialização", afirma Velho.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – também teve um pregão instável, mas se firmou em alta ao longo da tarde, no patamar dos 102,500 pontos, com ganhos de mais de 1% em relação ao iene – que está no menor patamar frente a moeda americana desde 2002. O PIB japonês caiu 0,1% na margem no primeiro trimestre, reforçado a posição do Banco do Japão em manter a política monetária frouxa.
As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com o yield da T-note de 10 anos acima de 3%, e as cotações do petróleo avançaram mais de 2%, superando a marca de US$ 120,00 o barril, o que aumenta as preocupações com a inflação global. O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou nesta quarta a decisão de proibir importação de petróleo e gás russo.
Alertando para impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia, ambos grandes exportadores de commodities, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cortou a projeção para o crescimento global de 4,5% para 3%. Para 2023, a expectativa é de avanço de 2,8%. Na terça, o Banco Mundial havia cortado sua estimativa para o PIB global neste ano de 4,1% para 2,9%.
Na quinta-feira, tem reunião de política monetária do Banco Central (BCE), seguida de entrevista da presidente da instituição, Christine Lagarde. A terceira leitura do PIB da zona do euro no primeiro trimestre (na margem) mostrou avanço de 0,6%, acima da anterior, que apontava expansão de 0,3%. Na sexta-feira, será divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em maio, o que pode mexer com as expectativas em relação ao ritmo e a intensidade do ajuste monetário capitaneado pelo Federal Reserve.
Contato: [email protected]