O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 22, em alta no mercado doméstico de câmbio, alinhado à onda de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior. Operadores citaram também desconforto com a questão fiscal doméstica após a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas pelo governo federal e possível saída de recursos da bolsa como indutores da busca por dólares.
Apesar do pouco apetite ao risco, a divisa voltou a mostrar baixa volatilidade, com oscilação de apenas de pouco menos de três centavos entre a mínima (R$ 4,9817) e a máxima (R$ 5,0091).
No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 4,9986, avanço de 0,39%. Na semana, o dólar permaneceu praticamente estável (+0,01%).
Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril movimentou pouco mais de US$ 12 bilhões. Em certos momentos, esse contrato operou abaixo da cotação do dólar à vista, o que sugere uma demanda maior no mercado spot.
"Isso é um sintoma de baixa liquidez e provavelmente de saída de recursos do país. Quem tem dólares está cobrando caro pela moeda", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem o receio de que a ampliação de gastos pelo governo leve a uma deterioração fiscal alimenta busca por proteção (hedge) e a manutenção de posições compradas em dólar.
Pela manhã, na divulgação do relatório de avaliação de receitas e despesas, os ministérios da Fazenda e do Planejamento anunciaram um bloqueio de R$ 2,9 bilhões em despesa discricionárias no Orçamento, como havia sido antecipado pelo <i>Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Por ora, o governo mantém a meta de déficit primário de 0% do PIB neste ano. Há dúvidas, contudo, em relação à capacidade de geração de receita adicional pelas medidas da Fazenda para ampliar a arrecadação.
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisa fortes – voltou a superar os 104,00 pontos com enfraquecimento do euro e tocou máxima aos 104,496 pontos. A decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de permitir o enfraquecimento do yuan ajudou a dar impulso ao dólar
A moeda norte-americana subiu em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities. Uma das exceções foi o peso colombiano. O Banco Central da Colômbia cortou a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual, para 12,25%. A decisão foi dividida, com três dirigentes votando por redução maior.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê rigidez na taxa de câmbio no curto prazo. Passado o alívio com o fato de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ter confirmado, na quarta-feira, 20, que a maioria de seus dirigentes projeta três cortes de juros neste ano, o dólar volta a subir no mundo. Há dúvidas ainda sobre o início do processo de redução, embora as apostas majoritárias se voltem para junho, em razão dos indicadores americanos.
"E temos também a questão da crise no setor imobiliário chinês, apesar de a China ter dado sinais de estímulos, e todo o contexto geopolítico desfavorável para os ativos de risco", afirma Velho.
O economista ressalta que fatores locais, como o fluxo cambial negativo do lado da conta financeira e a perspectiva de mudança da meta fiscal ainda no primeiro semestre, contribuem para tirar força do real.
Ele acrescenta que a sinalização mais conservadora do Banco Central, que no comunicado de quarta-feira evitou se comprometer com a continuidade de cortes de juros em 0,50 ponto porcentual após maio, poderia até ajudar a moeda brasileira, mas já estava em grande parte refletida nos preços.