Após recuo de 1,03% ontem, o dólar voltou a subir no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 17, em meio a aumento da aversão a risco no exterior com temores de crise no sistema financeiro americano e europeu. Com máxima a R$ 5,2850, a moeda terminou a sessão cotada a R$ 5,2702, em alta de 0,58%, encerrando a semana com valorização de 1,19%.
Informações de forte aumento de busca de instituições por linhas de redesconto do Federal Reserve nos últimos dias e o pedido de recuperação judicial do SVB Financial Group, controlador do Silicon Valley Bank (SVB), acenderam o sinal de alerta entre investidores, que ontem haviam comemorado o socorro de US$ 30 bilhões de 11 bancos americanos ao First Republic Bank. Ainda pairam dúvidas sobre a sustentabilidade do Credit Suisse, a despeito de a instituição ter conseguido linha de crédito de mais de US$ 50 bilhões do Banco Central suíço.
Lá fora, o dólar caiu em relação a divisas fortes e moedas de países exportadores de commodities desenvolvidos, mas subiu na comparação com moedas emergentes, em especial latino-americanas, movimento do qual o real não escapou. Como em episódios de estresse ao longo da semana, as maiores perdas ficaram por conta do peso mexicano. As cotações do petróleo voltaram a recuar, com tipo Brent para maio fechando em queda de 2,31%, a US$ 72,97 o barril.
"Ainda que medidas tenham sido tomadas em ambos os casos, permanece um significativo risk-off já que persiste a incerteza em relação aos desdobramentos da crise nos bancos médios nos EUA e no Credit Suisse", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, acrescentando que a China também agiu para dar suporte à liquidez bancária com corte de 25 pontos-base em sua taxa de compulsório. "A decisão veio após hard datas chineses indicarem uma retomada menos pujante que a esperada. Esse conjunto de fatores penalizou as moedas de países emergentes e tende a continuar mantendo a aversão ao risco elevada".
No mercado de renda fixa, a taxa do Treasury de 2 anos, mais ligada à perspectiva para o rumo da taxa básica americana, caiu quase dois dígitos e voltou a operar abaixo da linha de 4,00%. Parte do mercado especula que o Fed possa optar, na próxima quarta-feira, 22, por manter os Fed Funds inalterados, em vez de elevá-los em 25 pontos-base.
O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que os pequenos bancos americanos, quando olhados em conjunto, têm um peso relevante e superam as grandes instituições no segmento imobiliário comercial americano. "O difícil trade-off que os EUA enfrentam é entre proteger os depositantes não segurados em pequenos bancos versus uma crise de crédito pontualmente profunda", afirma Brooks, no Twitter.
Apesar do escorregão com a crise externa, analistas destacam que o real parece, por hora, bem ancorado, dado que a moeda brasileira sofreu menos que seus pares. Embora tenha atingido máxima a R$ 5,3288 na quarta-feira, 15, o dólar respeitou o teto de R$ 5,30 no fechamento. As taxas reais domésticas elevadas, mesmo com eventual redução da taxa Selic nos próximos meses, e certo otimismo com a possibilidade de anúncio do novo arcabouço fiscal estariam dando suporte ao real.
"A semana foi contaminada pelas preocupações com possível crise financeira depois dos problemas de liquidez dos bancos americanos. Mas o real até que se comportou bem. Temos ainda um patamar de juro elevado que estimula o carry trade e vejo possibilidade de o dólar se acomodar mais perto de R$ 5,15", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha.
Uma ala do mercado alimenta expectativas que a proposta seja divulgada antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira à noite, o poderia abrir espaço, ao lado da piora das condições de crédito, para o colegiado do BC sinalizar possível redução da taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, ainda no primeiro semestre.