Após quatro pregões consecutivos de queda, em que acumulou desvalorização de 1,53%, o dólar subiu com força nesta abertura da semana e ameaçou romper o teto de R$ 4,95 no fechamento desta segunda-feira, 29. Embora haja desconforto com o quadro fiscal doméstico, com certo ruído nas negociações entre Congresso e governo em torno da pauta econômica, o tropeço do real foi atribuído ao ambiente externo.
Temores com o setor imobiliário na China, com a liquidação judicial da incorporadora Evergrande, e o clima de cautela à espera do comunicado da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na quarta-feira abalaram as moedas latino-americanas. O peso chileno apresentou o pior desempenho, com perda de mais de 1%, na expectativa de que o Banco Central do Chile anuncie, também na quarta, uma redução de 1 ponto porcentual na taxa básica do país. Por aqui, é quase unânime a aposta de que o Banco Central vai cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 11,25% ao ano.
Afora uma queda pequena e bem pontual pela manhã, o dólar operou em terreno positivo ao longo do dia. As máximas vieram à tarde, quando atingiu R$ 4,9580, em sintonia com a deterioração do Ibovespa, muito prejudicado pelo tombo das ações da Vale. No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 4,9459, avanço de 0,71%, passando a acumular valorização de 2% em janeiro.
Operadores observam que, após a queda das últimas sessões, havia espaço para ajustes e movimentos de realização de lucros. Parte das tesourarias já teria dado início a rolagem de posições em dólar futuro para a virada do mês
"As moedas emergentes recuaram. Pode ser em função desse movimento de China, com todas as commodities caindo. Isso atrapalhou também o Brasil", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, acrescentando que esta semana deve ser dominada pelas expectativas – e os desdobramentos – do comunicado que acompanhará a decisão do Banco Central americano. "O Fed não vai mexer, mas vamos ver o comunicado para saber se vão cortar mais cedo ou se vai ficar mais para o meio do ano."
À tarde, da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,026 bilhão na 4ª semana de janeiro (dias 22 a 28). No mês, o superávit acumulado é de US$ 6,433 bilhões.
Para o Banco suíço Lombard Odier, o real figura como uma das melhores moedas para operações de carry trade. O banco argumenta que, embora as taxas de juros reais tenham encolhido cerca de 200 pontos-base, para 8%, "ainda são altas em termos histórias". E o real deve se manter firme mesmo que o Banco Central continue a manter o ritmo de cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião.
O Lombard Odier observa que a taxa de câmbio tem se mantido estável ao redor de R$ 4,90 desde novembro do ano passado, após ter atingido pico de R$ 5,20 no terceiro trimestre de 2023.
"Embora uma apreciação futura parece mais difícil, acreditamos que o real é estável o suficiente para ser um dos melhores candidatos ao carry", afirma o banco suíço, que ainda vê a moeda brasileira depreciada e mantém preço justo de R$ 4,50. "A balança comercial do país apresenta os maiores níveis em várias décadas, sugerindo uma fonte mais estável de demanda pela moeda."