Estadão

Dólar sobe 0,86%, a R$ 5,3955, com mau humor externo e cautela pré-eleição

A dobradinha formada por alta da moeda norte-americana frente a divisas emergentes, em dia de forte aversão ao risco no exterior, e reforço de posições defensivas às vésperas da eleição presidencial abalou o real na sessão desta quinta-feira, 29. Dados da economia americana e declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reforçaram a aposta de aperto monetário mais forte e duradouro nos Estados Unidos, o que derrubou as bolsas em Nova York e levou a alta adicional das taxas dos Treasuries.

Com o mercado externo azedo, o dólar já abriu em alta firme por aqui e ultrapassou a barreira de R$ 5,40 na primeira meia hora de negócios, registrando máxima a R$ 5,4292 (+1,49%) no fim da manhã. Com certa moderação ao longo da tarde, a moeda encerrou o dia com avanço de 0,86%, cotada a R$ 5,3955 – no maior valor no fechamento desde 22 de julho. Com isso, a divisa passa a acumular ganhos de 2,80% na semana, o que leva a valorização em setembro para 3,73%.

Termômetro do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY, que chegou a superar os 114,000 pontos nesta semana, nesta quinta recuou para a casa dos 112,100 pontos, com recuperação técnica do euro e da libra esterlina, diante da intervenção do Banco da Inglaterra (BoE) com compra de título públicos (gilts). A taxa anual da inflação ao consumidor na Alemanha acelerou de 7,9% em agosto para 10% em setembro (dados preliminares), acima do esperado por analistas (9,5%).

Nos EUA, a leitura final do PIB no segundo trimestre mostrou, como esperado, queda anualizada de 0,6%. Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida do Fed, avançou à taxa anualizada de 7,3% (ante 7,1% na leitura preliminar). O número de pedido de auxílio-desemprego apresentou queda de 16 mil na semana encerrada em 24 de setembro (para 193 mil), abaixo do que esperavam analistas (215 mil).

Segundo a economista Bruna Centeno, especialista em renda fixa da Blue3, os dados dos EUA e sinais de dirigentes do Fed reforçam a expectativa de alta de juros nos EUA, o que muda a relação entre risco e retorno entre ativos, castigando bolsas e moedas emergentes. "A economia americana está ainda aquecida e a inflação, elevada. O que estamos vendo hoje é um <i>risk off</i> muito forte", diz Centeno, que não vê grande influência da tensão pré-eleitoral sobre os preços de ativos nesta quinta-feira.

O gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor, Cleber Alessie, diz que o impacto de eventual cautela pré-eleitoral sobre a dinâmica da taxa de câmbio nos últimos dias e no pregão desta quinta é muito reduzido. "O que estamos vendo é um contágio vendo de fora. Ambos os candidatos que lideram as pesquisas são mal vistos do ponto de vista fiscal. O populismo vai continuar seja qual for o resultado da eleição", afirma.

Para gerente da Commcor, o mercado global passa por um momento de rebalanceamento de ativos diante da expectativa de juros mais altos nos EUA e de possível recessão global. Esse movimento mantém o ambiente de dólar forte no mundo no curto prazo e castiga divisas emergentes como o real. "Não vejo esse dólar forte no mundo como sustentável. Nos níveis de atuais, o real está bastante atraente. O PIB do Brasil sobe, apesar do efeito base fraco, a inflação desacelera e temos ainda um carry atrativo", diz Alessie. "Sou vendedor de dólar por esses aspectos. Mas agora não adianta dar murro em ponto de faca, porque o momento é de rebalanceamento de portfólios."

Por aqui, dados positivos do Caged (abertura líquida de 278.639 vagas em agosto) e a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), acompanhada de entrevista coletiva do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não tiveram peso relevante na formação da taxa de câmbio, segundo operadores.

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