Estadão

Dólar sobe 1,23% com inflação nos EUA e disputa sobre reoneração de combustíveis

Depois de cair 0,64% ontem e fechar no menor nível desde 2 de fevereiro, o dólar terminou a sessão desta sexta-feira, 24, em alta de 1,23%, cotado a R$ 5,1987, encerrando a semana, encurtada pelo feriado de Carnaval, com ganhos de 0,72%. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana no exterior, após leitura acima do esperado do índice de preços de gastos com consumidor (PCE, na sigla em inglês) nos EUA reforçar a perspectiva de mais elevações de juros pelo Federal Reserve.

Ao ambiente externo de liquidação de ativos de risco somou-se o desconforto com a queda de braço no governo em torno da reoneração dos combustíveis e seus impactos na política de preços da Petrobras e, por tabela, na inflação. A aceleração do IPCA-15 de 0,55% em janeiro para 0,76% em fevereiro, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (+0,72%) – em momento no qual se fala em desancoragem das expectativas de inflação – desautoriza apostas em cortes da taxa Selic no primeiro semestre, apesar das críticas pesadas de Lula à gestão da política monetária.

O dólar renovou máximas à tarde, correndo até R$ 5,2095, em meio a falas da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffman (PR). Tida com expoente da ala política do governo mesmo sem cargo na Esplanada dos Ministérios, Gleisi disse que "antes de falar em retomar tributos sobre os combustíveis, é preciso definir uma nova política de preços para a Petrobras". Embora tenha dito que não é "contra taxar combustíveis", a deputada ressaltou que "fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha".

Como apurou o <b>Broadcast</b>, o presidente Lula, que se reuniu hoje com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, que defendeu a reoneração, deve esperar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltar de viagem à índia amanhã para bater o martelo. Com o prazo para a prorrogação da desoneração da gasolina e do álcool terminando na próxima quarta-feira, 1º, a avaliação de parlamentares próximos à cúpula do Congresso ouvidos pelo <b>Broadcast Político</b> é que não há tempo hábil para votação da Medida Provisória sobre o tema até lá.

"O real já tem sofrido nas últimas semanas mais que seus pares, principalmente pelo acirramento da disputa entre governo e BC. E agora temos essa questão da reoneração de combustíveis, com reunião de Lula com o presidente da Petrobras e o ministério da Fazenda. Tudo isso que aumenta a insegurança fiscal e ajuda a depreciar a moeda", afirma o sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac.

Nos EUA, o núcleo do PCE – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – subiu 0,6% em janeiro, acima do esperado (0,5%). Na comparação anual, a alta foi de 4,7%, ante expectativa de 4,4%. Esse resultado vem após uma sequência de falas mais duras de dirigentes do BC americano e a divulgação, na quarta-feira, da ata Fed. Ferramenta do CME Group mostra que, embora as apostas em elevação da taxa básica em 25 pontos-base no encontro de política monetária do BC dos EUA em março sejam majoritárias, as chances de alta de 50 pontos-base subiram e já ultrapassam 30%.

"A resiliência da economia e uma menor velocidade de queda na inflação trazem o temor de que o Fed precise fazer um aperto monetário mais forte e mais prolongado. O mercado já precifica três aumentos de 25 pontos base, levando a taxa de juros para o intervalo entre 5,25 e 5,5% em junho, e postergou uma possível queda nos Fed Funds para o começo de 2024", afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes.

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