Estadão

Dólar sobe 1,55% e alcança R$ 5,38 com expectativa para PEC da Transição

Após uma manhã de alta moderada, o dólar à vista arrancou ao longo da tarde desta quarta-feira, 16, e se aproximou de R$ 5,40 em meio a especulações sobre o conteúdo da chamada "PEC da Transição", cujo texto deve ser apresentado hoje à noite ao Congresso Nacional. Com máxima a R$ 5,3987 (1,87%), a divisa encerrou o dia cotada a R$ 5,3817, avanço de 1,55% – o que leva a valorização acumulada em novembro a 4,18%.

A escalada da moeda americana se deu em sintonia com o aprofundamento da baixa do Ibovespa, que chegou a perder a linha dos 110 mil pontos, e o avanço das taxas de juros futuros – um sinal clássico, na fala de um operador, de reversão de apostas remanescentes no "Kit Brasil" que haviam sido montadas após a vitória de Lula no segundo turno da corrida presidencial. Haveria também certo incômodo do investidor estrangeiro, que vem aumentando suas posições defensivas no mercado futuro de câmbio.

Parte da equipe de transição do governo, o senador Paulo Rocha (PT-SP) afirmou que a PEC não traria valores, que seriam detalhados na Lei Orçamentária Anual (LOA). Além da indefinição em relação aos valores, há incertezas sobre o período do "waiver" fiscal. Fala-se em retirada de recursos destinados ao Bolsa Família do teto de gastos para os próximos quatro anos ou até definitivamente.

"Já se sabia que haveria flexibilização do teto para o orçamento de 2023. Mas o novo governo apareceu com uma ideia diferente e o mercado precifica de forma negativa a falta de âncora fiscal", afirma a economista Ariane Benedito, para quem a estratégia da equipe de transição é apresentar uma proposta de PEC mais agressiva para negociar concessões com parlamentares, já prevendo certa desidratação no Congresso. "O mercado está muito sensível e qualquer fala sobre gastos já causa uma indigestão, levando o dólar para cima".

Segundo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a proposta não deve fixar um prazo para que os recursos ao financiamento do Bolsa Família seja contabilizados fora da regra do teto. "Não vamos propor um ano ou quatro anos", disse Pimenta. "A PEC busca garantir que o Bolsa Família seja tratado como programa de Estado, permanente".

"Existem muitas dúvidas sobre a PEC e é natural que o mercado busque uma postura mais defensiva. Além disso, Alckmin sinalizou que a divulgação de nomes da equipe econômica será mais à frente, o que aumenta a incerteza" afirma o diretor de produtos da Venice Investimentos, André Rolha, ressaltando que, apesar do estresse ao longo da tarde, o dólar respeitou a resistência de R$ 5,40.

Alckmin afirmou hoje que a PEC da Transição tratará do equacionamento do Bolsa Família. Já a "questão da ancoragem fiscal" vai ser debatida "com mais calma e não nesse momento". Lula, disse Alckmin, vai anunciar os nomes para os ministérios "em momento adequado".

Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou a maior parte do dia em baixa, tendo furado o piso de 106,000 pontos na mínima da sessão. Na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o dólar teve comportamento misto, perdendo valor frente a pares da moeda brasileira, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

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