Após um descolamento do conturbado ambiente externo nos últimos dias, o real foi engolfado nesta sexta-feira, 23, pela onda de aversão ao risco que tomou conta dos mercados mundo afora. A degringolada da economia europeia, atestada por leitura decepcionante indicadores econômicos, e a perspectiva de aperto monetário mais intenso e forte nos Estados Unidos, dado o tom duro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) no combate à inflação, provocou uma corrida global à moeda norte americana e deprimiu preços de commodities.
Com o espectro de recessão nas economias desenvolvidas no radar, o dólar já iniciou o dia em alta firme, acima de R$ 5,20, e correu até o patamar de R$ 5,25 no início da tarde. A máxima, a R$ 5,2644 (+2,93%), veio nas últimas duas horas do pregão, em meio a uma queda mais aguda dos índices acionários em Nova York, replicada pelo Ibovespa, após fala do presidente do BC americano, Jerome Powell.
No fim da sessão, a moeda subia 2,62%, a R$ 5,2485. Com isso, o dólar, que na quinta-feira apresentava queda acumulada de 2,76% nos últimos quatro dias, encerrou a semana com baixa de apenas 0,20%. No mês, apresenta ganhos de 0,90%.
"O real vinha se segurando bem nos últimos dias, com desempenho bom frente a uma cesta de moedas. Mas hoje, com as bolsas apanhando, queda das commodities e busca pela moeda americana, não resistiu", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, que ainda mantém uma visão construtiva para ativos brasileiros, apesar das dúvidas em torno da política fiscal em 2023. "A economista está crescendo e temos taxas de juros altas a favor do real. Do outro lado, tem a possibilidade de mais queda de commodities e esse quadro de dólar forte no mundo.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – subiu mais de 1,5% e superou os 113,000 pontos, com máxima aos 113,228 pontos. O euro perdeu mais de 1,5% em relação ao dólar. A libra esterlina derreteu, com baixa superior a 3%, após o governo do Reino Unido anunciar plano de corte de impostos e subsídios, com custo estimado por analistas em mais 150 bilhões de libras nos próximos dois anos.
Em discurso desta sexta-feira à tarde, Powell disse que o BC dos EUA lida com uma "situação econômica excepcional" e que está "comprometido a usar todas as ferramentas para ver a econômica superar esse período desafiador".
Para Jolig, da Alphatree Capital, o mercado parece estar "finalmente entendendo" que o Fed vai fazer o que for necessário para conter a inflação, o que significa apertar as condições financeiras até que a economia desacelere e o mercado de trabalho esfrie. "O Fed vai subir os juros e acabar gerando uma recessão. Os outros BCs estão tentando reagir de uma forma atabalhoada, o que causa essa confusão nos mercados", afirma.
Pela manhã, o Banco Central brasileiro anunciou leilão de linha (venda de dólar com compromisso de recompra) de até US$ 2 bilhões, totalmente absorvido pelo mercado. Segundo operadores, a atuação do BC não está relacionada à arrancada da moeda americana, mas ao suprimento de uma demanda pontual por dólares para operação específica.