Estadão

Dólar sobe a R$ 5,2093, com baixa liquidez e de olho em ministros

O dólar à vista inverteu nesta segunda-feira, 26, o movimento de quatro quedas consecutivas em relação ao real observado desde a última terça-feira, 20, e encerrou a sessão em alta de 0,83%, cotado em R$ 5,2093. A piora das expectativas do mercado para o IPCA de 2023 a 2025 e fatores técnicos contribuíram para o resultado, em um momento no qual os investidores realizam lucros à espera da nomeação de novos ministros e em meio à baixa liquidez.

Com os feriados que paralisaram as bolsas dos Estados Unidos e zona do euro, por causa do Natal, e do Reino Unidos, devido ao Boxing Day, o baixo volume de negociações deu o tom da sessão. Hoje, o contrato do dólar futuro para janeiro, principal termômetro do apetite por negócios, movimentou menos de US$ 5 bilhões ao longo do dia, um dos menores volumes do ano.

"A falta de liquidez é muito relevante, então é difícil tirar uma conclusão de um movimento em um dia como hoje. Mas o mercado continua com as preocupações sobre a política fiscal do novo governo, ao arcabouço fiscal. E, no curto prazo, ainda existe uma inquietação com o restante da equipe que vai ser anunciada esta semana, em particular o ministro do Planejamento", diz o sócio e chefe de gestão do Opportunity Tota, Marcos Mollica.

A divisa americana operou entre a mínima de R$ 5,1570 (-0,15%), alcançada minutos após o início da sessão, e a máxima de R$ 5,2146 (0,94%), em meados do dia. Já na primeira hora de negociação, o dólar firmou alta em relação ao real, enquanto a Bolsa cedia e os juros futuros avançavam, após a divulgação do relatório Focus, que reforçou a percepção de risco de desancoragem das expectativas de inflação.

A pesquisa apurou aumento das medianas para o IPCA de 2023 (5,17% para 5,23%), 2024 (3,50% para 3,60%) e 2025 (3,10% para 3,20%) – as duas últimas acima do centro da meta, de 3,0%, apesar do horizonte distante. O boletim também mostrou uma alta da estimativa intermediária para a taxa Selic no fim do ano que vem, de 11,75% para 12,0%, ante o nível atual, de 13,75%.

Para Mollica, esse quadro corrobora as preocupações do mercado com a dinâmica inflacionária a partir do ano que vem e com o seu impacto para a política monetária. Este cenário é compatível com o movimento observado no dólar, especialmente após o fortalecimento do real visto na semana passada, quando a divisa americana acumulou perda de 2,42% em relação à brasileira.

"A semana passada estava um pouco exagerada, acho que foi a combinação entre um cenário externo de dólar mais fraco com um mercado doméstico que vinha se posicionando para uma alta do dólar, por causa das preocupações com a PEC, e isso contribuiu para uma correção para baixo", diz Mollica. "Mas, nesta semana, a liquidez muito baixa torna difícil de extrair o sinal. O jogo começa para valer na virada do ano."

O analista de câmbio da Ourominas Elson Gusmão acrescenta que alguma deterioração do real seria esperada, dada a expectativa dos mercados pelas nomeações dos novos ministros. "Hoje, com a liquidez reduzida, qualquer movimento mais forte também forma o preço e tem empresas comprando dólar para fazer as remessas de final de ano, dividendos e repasses às suas matrizes no exterior", lembra.

O anúncio dos novos ministros pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fica no radar como principal acontecimento da semana. Como mostrou o Broadcast, o petista deve confirmar na próxima quarta-feira, 28, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) no comando da Agricultura e a ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) no Meio-Ambiente, após ela recusar assumir a Autoridade Climática.

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