A percepção de que os juros dos Estados Unidos podem cair mais lentamente do que o mercado espera, somada às preocupações dos investidores com o ritmo de crescimento da China e com o conflito no Mar Vermelho, que aumentaram a aversão ao risco e a busca por ativos considerados seguros, favoreceram o dólar em escala global, levando a moeda americana a subir mais de 1% na comparação com o real.
O dólar à vista subiu 1,22%, a R$ 4,9256, mas na máxima intradia atingiu R$ 4,9333 (+1,37%). Foi a maior cotação em um mês. O contrato da moeda para fevereiro subiu 1,46%, aos R$ 4,9350, mas na cotação mais alta do pregão chegou a R$ 4,9430 (+1,62%). O movimento no mercado futuro foi de US$ 16 bilhões.
No final do ano passado, os investidores aumentaram as apostas de que o Federal Reserve começaria a reduzir os juros rapidamente a partir de março, mas nas últimas semanas parte desta expectativa se desfez, tanto por indicadores apontando para a resiliência do mercado de trabalho e de alguns componentes da inflação quanto por declarações das autoridades do banco central americano sugerindo que a instituição será conservadora ao afrouxar a política monetária.
Hoje, foi mais uma destas falas que ajudou a dar força ao dólar. Christopher Waller, um dos diretores do Fed, disse que a inflação nos Estados Unidos parece estar retornando à meta de 2% e que isso deve abrir espaço para cortes nos juros do país. A previsão dele, porém, é de um recuo de 75 pontos-base em 2024, enquanto o mercado espera praticamente o dobro de cortes, segundo dados da Ferramenta CME FedWatch.
A declaração de Waller desapontou o mercado, segundo Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, em particular porque Waller sugeriu não ver motivos para acelerar o ritmo de cortes enquanto os indicadores não justificarem este movimento. "Como a gente tem visto economia em pleno emprego, desemprego demorando a voltar, inflação controlada mas nem tanto, veio esse balde de água fria", acrescentou.
Diante disso, as taxas dos Treasuries renovaram as máximas intradia, o que ajudou a impulsionar o dólar. "Depois da fala dele o mercado piorou. O dólar subiu mais, tanto na comparação com o real quanto o DXY", disse Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital. "É mais uma valorização do dólar do que uma queda do real", acrescentou.