A proposta de taxação de dividendos e os temores com os desdobramentos políticos do depoimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, servidor do Ministério da Saúde, na CPI da Covid-19, empurraram o dólar para cima nesta sexta-feira, 25. A avaliação é que a tributação pode abalar o apetite de estrangeiros por ativos domésticos, prejudicando o real. Não à toa o Ibovespa se descolou do tom positivo das bolsas americanas e amargou queda de mais de 1,5%.
Depois de correr até a máxima de R$ 4,9742, o dólar à vista fechou cotado a R$ 4,9377, em alta de 0,67%, interrompendo uma sequência de quatro pregões de queda. Apesar do avanço nesta sexta-feira, o dólar ainda cai 5,5% em junho e quase 5% no acumulado do ano.
Para a economista Fernanda Consorte, do Banco Ourinvest, o mercado estava em uma "onda muito otimista" com o real, por conta da melhora das estimativas de crescimento e da expectativa de novas altas da taxa Selic, ratificada ontem pelo Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central.
"Não vejo justificativa para dólar abaixo de R$ 5, porque não se vê um fluxo tão forte de recursos para o Brasil. Era natural que qualquer notícia desagradável provocasse uma realização de lucros mais forte", diz Fernanda, ressaltando que a CPI da Covid-19 traz uma antecipação do calendário eleitoral, o que tende a acentuar a volatilidade no câmbio.
A economista ressalta que, apesar da perspectiva de manutenção de liquidez elevada no mundo, o Brasil não deve ser o destino preferencial do capital estrangeiro, muito por conta da turbulência política. "É claro que vai vir algum dinheiro para cá, mas nada que possa pôr o dólar pra baixo definitivamente", diz Fernanda, que admite estar na contramão da maioria do mercado, que vê um fortalecimento do real.
Pela manhã, o dólar chegou a romper o piso de R$ 4,90 ao descer até mínima de R$ 4,8937, acompanhando a tendência global de perda em relação a dividas emergentes, após dados da economia americana e declarações do Federal Reserve diminuírem temores de uma alta prematura dos juros nos Estados Unidos.
Em relatório, a Genial Investimentos afirma que os fundamentos apontam para um dólar na casa de R$ 4,10 e que a "depreciação corrente" do real está associada aos riscos domésticos "fiscal e político".
Para o economista-chefe da Integral Investimentos, Daniel Miraglia, a tendência para o dólar daqui para a frente depende do comportamento das taxas de juros aqui e no exterior e da concretização das estimativas de crescimento do PIB, de cerca de 5% neste ano. "Precisamos ver também o quanto o mercado pode antecipar a discussão da eleição de 2022 e de todos os ruídos políticos envolvidos", afirma.