Após troca de sinais pela manhã, o dólar à vista ganhou força ao longo da tarde desta quinta-feira, 14, e se firmou em alta no mercado local, acompanhando a onda de valorização da moeda norte-americana no exterior. Resultado acima do esperado da inflação ao produtor nos Estados Unidos aumentou a probabilidade de um ciclo menor de queda de juros pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA) neste ano e levou a nova rodada de alta das taxas dos Treasuries, castigando divisas emergentes.
Com máxima a R$ 4,9940 à tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira em alta de 0,22%, a R$ 4,9870. Após o avanço desta quinta, a moeda passa a acumular valorização de 0,28% em março. No ano, os ganhos são de 2,76%. Principal termômetro do apetite por liquidez, o contrato de dólar futuro para abril teve bom giro, acima de US$ 15 bilhões – o que pode sugerir mudanças relevantes no posicionamento de investidores.
O índice de inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 0,6% em fevereiro, bem acima da expectativa (0,3%). O núcleo do índice – que exclui itens mais voláteis como energia e alimentação – avançou 0,3%, um pouco acima do esperado (0,2%). Na terça-feira, 12, o núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) também havia superado as estimativas.
"As taxas dos Treasuries sobem e a maioria das moedas se desvaloriza em relação ao dólar. O PPI mais forte veio depois de um CPI também forte", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt lembrando que as chances de o Federal Reserve promover corte de juro em junho, que superavam 80% no início da semana, agora estão abaixo de 70%.
Weigt observa que o real tem neste ano desempenho inferior ao de seu principal par, o peso mexicano, em razão dos problemas domésticos. Enquanto a moda brasileira apresenta perda de mais de 2% no ano, oscilando no intervalo entre R$ 4,90 e R$ 5,00, o peso mexicano tem ganhos de cerca de 3% em relação ao dólar de 15 de janeiro para cá.
"Se o real estivesse acompanhando o peso mexicano, o dólar estaria em R$ 4,78. Mas temos muito intervencionismo do governo na economia, como mostraram os casos da Vale e da Petrobras", diz o tesoureiro, ressaltando que o foco está no aumento da arrecadação. "E quando a arrecadação sobe, os políticos falam em gastar mais".
O respiro do real pela manhã, quando o dólar registrou mínima a R$ 4,9538, foi atribuído por operadores a ajustes e à leitura forte das vendas no varejo em janeiro. Isso sugere atividade anda em ritmo maior que o previsto e pode colocar um piso mais alto para taxa Selic terminal – fato que impede uma erosão maior do diferencial de juros e mantém certa atratividade para o "carry trade".
Operadores afirmam que o fluxo comercial impediu que o dólar rompesse os R$ 5,00 nos últimos dias. Toda vez que a taxa de câmbio se aproxima desse nível técnico, exportadores internalizam recursos. De fato, dados do fluxo total cambial divulgados nesta quinta pelo Banco Central mostram saldo positivo de US$ 2,233 bilhões em março (até o dia 8), graças à entrada líquida de US$ 1,840 bilhão via comércio exterior. No ano, o fluxo total é de R$ 5,312 bilhões, em razão de entrada líquida de US$ 9,193 bilhões. No ano passado, até o dia 10 de março, o fluxo total era positivo em US$ 10,266 bilhões.