Temores de uma postura mais populista por parte do governo Lula daqui para a frente, após a demissão na terça-feira, 14, à noite de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras, impediram o real de se beneficiar da onda de enfraquecimento global da moeda norte-americana nesta quarta-feira, 15.
As divisas emergentes, em particular, se favoreceram nesta quarta da queda firme das taxas dos Treasuries. Leitura comportada da inflação ao consumidor e dados mais fracos de vendas no varejo nos EUA aumentaram as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode ter espaço para promover dois cortes de 25 pontos-base nos juros neste ano.
Tirando queda pontual e bem limitada no início da tarde, o dólar operou em terreno positivo no restante da sessão. Com máxima a R$ 5,1718 no início dos negócios, a moeda encerrou a sessão em alta de 0,12%, cotada a R$ 5,1367. Como havia recuado nos dois pregões anteriores, a divisa ainda apresenta baixa de 0,42% na semana.
O índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – rompeu o piso de 105,000 pontos, com mínima aos 104,305 pontos, diante de perdas de quase 1% do dólar em relação ao iene. O real amargou, de longe, o pior desempenho entre as moedas globais mais relevantes. Na ponta positiva, destaque para o dólar neozelandês e dois pares latino-americanos do real, os pesos chileno e mexicano, com ganhos de mais de 1%.
"Toda a discussão recente sobre o último Copom, com votos dissidentes claramente separados em dois grupos, e o próprio texto da ata, ficam pequenos perto da nova situação na Petrobras", afirma o sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, para quem o anúncio e a forma da troca de comando na petroleira levam a "uma maior insegurança" e a aumento da aversão ao risco.
A demissão de Prates pegou os investidores de surpresa na terça à noite, dado que os atritos entre o então presidente da Petrobras e os ministros de Minas e Energia (Alexandre Silveira) e Casa Civil (Rui Costa) pareciam ter arrefecido após o governo optar por liberar os dividendos extraordinários de 2023. Prates teria como aliado no Planalto apenas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não participou de reunião na terça entre Lula, Silveira e Costa para tratar do tema.
A troca de comando na companhia veio um dia depois da divulgação do resultado da empresa no primeiro trimestre. Segundo fontes ouvidas pelo <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lula decidiu pela remoção de Prates por que deseja mais velocidade na execução de projetos anunciados pela companhia, especialmente em relação à encomenda de navios.
O governo escolheu para o lugar de Prates a ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Magda Chambriard, indicada por Rui Costa e ligada ao governo Dilma Rousseff. Teme-se que haja mais ingerência política na gestão da empresa, em especial em assuntos como preços de combustíveis, política de dividendos e investimentos.
Monoli, da Azimut, pondera que o estrago no mercado local é amortecido, por ora, pela melhora do quadro externo. A atividade e o emprego nos EUA mostram sinais de moderação, o que talvez possa levar a inflação a retomar algum grau de convergência para a meta, mesmo que seja no longo prazo, observa.
"Dados recentes dos EUA, como payroll e CPI, vão devagar contribuindo para um cenário externo melhor nos próximos meses. Isso alivia o peso ruim do idiossincrático de Brasil", diz Monoli, ressaltando que o país perde oportunidade de atrair investidores estrangeiros. "Vai ser aquela coisa arrastada de sempre, com a diferença de que, pelo menos, tem bastante taxa de juros para ficar alocado. Agora, se por algum motivo o ambiente externo virar de vez para pior, teremos um acidente aqui no Brasil".