O dólar opera em alta frente o real na manhã desta quarta-feira, 12, descolado da queda externa da divisa americana e relativa acomodação dos rendimentos dos Treasuries. Segundo operadores, há um sentimento de cautela fiscal doméstica em meio à percepção de desgaste do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolver parte da Medida Provisória 1.227 do governo, que limitava a compensação de créditos do PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) pelas empresas.
Haddad afirmou na terça, 11, que Pacheco discutiu na segunda-feira, 10, em audiência com o presidente Lula a possibilidade de devolver a medida provisória. O ministro disse que a equipe econômica não tem um "plano B" e que o Senado assumiu a responsabilidade de encontrar uma nova alternativa.
Entre as propostas estudadas no Senado, estão: a atualização de bens de pessoas físicas e jurídicas no Imposto de Renda; a repatriação de recursos no exterior com regularização dos valores e pagamento de imposto no Brasil; e o uso de recursos esquecidos em contas judiciais de pessoas que ganharam ações na Justiça e não sacaram os valores nem manifestaram interesse em reaver as quantias. Os senadores também discutem vincular a taxação de compras internacionais acima de US$ 50, aprovada em outro projeto, como fonte de compensação.
O ambiente externo positivo para os ativos de risco é insuficiente para impactar positivamente os mercados locais e o desgaste do ministro Haddad com a Medida Provisória 1.227 deve preponderar, avalia a LCA Consultores.
Para Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos, a decisão de Pacheco indica uma derrota de Haddad, que tem tentado ajustes nas contas públicas. "Se o Randolfe precisa falar que o Haddad ainda tem força no Congresso é porque tem algum problema ai", alerta o analista da Ouro Preto Investimentos, em referência à defesa de Haddad pelo senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), em entrevista à GloboNews.
O senador Randolfe Rodrigues afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é "inabalável" no governo Lula e que ele "goza de prestígio e total confiança do presidente Lula". Sobre a devolutiva de Pacheco, Randolfe afirmou que o governo "respeita a decisão". Ele avaliou ainda que é "melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim", em referência à fala do senador Jacques Wagner (PT-BA), quando o Executivo sofreu uma grande derrota no Legislativo com a votação dos vetos. "Vamos dialogar junto ao Congresso Nacional para encontrar fontes alternativas", disse à <i>Globonews</i> .
A fim de tentar estancar as especulações sobre um eventual enfraquecimento do ministro da Fazenda, em razão das derrotas seguidas das matérias essenciais para o governo no Congresso Nacional, o líder disse também: "Haddad tem apoio de todo o governo e também dos líderes." Ele destacou também que o Congresso irá apoiar as pautas econômicas.
Na agenda do dia, a alta de 0,5% do volume de serviços em abril superou a mediana das estimativas do Projeções Broadcast, que indicava alta de 0,2% do indicador.
No exterior, os juros intermediários e longos dos Treasuries se acomodam e o dólar recua ante divisas fortes e parte das emergentes. Por lá, o ambiente é de expectativa pela divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), às 9h30 e pela decisão de política monetária do Federal Reserve e o gráfico de pontos, às 15h, seguidos de entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell.
Às 9h23, o dólar à vista subia 0,39%, a R$ 5,3822. O dólar para julho ganhava 0,19%, a R$ 5,3885.