O dólar à vista emendou nesta quarta-feira, 31, a terceira sessão de alta firme no mercado doméstico de câmbio e encerrou maio com valorização de 1,72%, após queda de 1,60% em abril. Apesar da influência da disputa técnica pela formação da última Ptax do mês e da rolagem de posições no segmento futuro, o principal catalisador dos negócios foi o ambiente externo. O dia foi marcado por uma onda de fortalecimento da moeda americana e por queda das commodities, na esteira de dados aquém do esperado dos setores de serviços e indústria na China.
Em alta desde a abertura, o dólar experimentou uma arrancada entre o fim da manhã e o início da tarde, quando superou o teto de R$ 5,10, considerado uma resistência técnica relevante, e correu até a máxima de R$ 5,1277 (+1,69%). Ao longo da tarde, à medida que a moeda americana reduzia seus ganhos tanto em relação ao euro quanto na comparação com pares do real, o dólar perdia parte do seu fôlego aqui. No fim do dia, a divisa subia 0,61%, cotada a R$ 5,0730 – maior valor de fechamento desde 19 de abril.
Maio foi um mês de extremos para o comportamento da moeda americana no mercado local. Desde seu ponto mais baixo no dia 15, quando fechou a R$ 4,8882, até o encerramento do pregão de hoje, a divisa acumulou valorização de 3,78%. As perdas do dólar ante o real em 2023, que chegaram a superar 6%, agora são de 3,92%. A moeda brasileira apresenta desempenho inferior a seus pares, em especial os pesos colombiano e mexicano, tanto no mês quanto no ano.
"Temos um movimento de dólar mais forte no mundo hoje. O real está um pouco pior que seus pares nos últimos dias. Isso tem um pouco a ver com a questão da articulação política do governo, com episódios mais ruidosos, o que acaba pesando sobre a moeda", afirma a economista-chefe e sócia da Armor Capital, Andrea Damico, em referência a derrotas recentes do governo Lula em votações no Congresso, como no esvaziamento da pasta do Meio Ambiente.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – tocou máxima a 104,699 pontos no início da tarde, em meio ao enfraquecimento do euro diante da perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) não levará o aperto monetário adiante.
Nos EUA, sob impacto do relatório Jolts, que mostrou aumento da abertura de postos de trabalho acima do esperado em abril, as chances de elevação de juros em 25 pontos-base pelo Federal Reserve em junho chegaram a superar 70% pela manhã, segundo monitoramento do CME Group. Ao longo da tarde, houve uma reviravolta nas apostas dos investidores para a reunião de política monetária do BC americano no mês que vem, em meio a declarações mais amenas de dois dirigentes do Fed. As chances de manutenção dos Fed Funds na faixa entre 5,00% e 5,25% não apenas passaram a ser majoritárias como superaram os 70%. Foi a senha para que o índice DXY desacelerasse ganhos em mais de 300 pontos e passasse a trabalhar ao redor dos 104,250 pontos.
"Os dados dos Jolts surpreenderam bastante hoje. A economia americana ainda mostra uma resiliência muito grande, com mercado de trabalho muito forte, o que está por trás da força do dólar. Hoje, tivemos diretores reforçando que pode ter uma pausa na alta de juros em junho, mas que isso não necessariamente significa final do ciclo", afirma Damico, da Armor, para quem, se o Fed interromper o processo de aperto em junho, terá muita dificuldade para voltar a elevar os juros.
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, a "principal força" que explica a alta do dólar por aqui da casa de R$ 4,95 para mais de 5,05 é "a queda dos preços das commodities a partir de fim de maio", em especial do petróleo. Hoje, o contrato do tipo Brent para agosto recuou 1,50%, a US$ 72,60 o barril. "A razão fundamental por trás disso reside na desconfiança (que renasceu) de desaceleração da economia chinesa", afirma Maciel, em relatório.