O dólar encerrou a sessão desta segunda-feira, 15, em alta moderada, perto do nível de R$ 5,45, alinhado ao avanço da moeda americana no exterior. O aumento das apostas na vitória do ex-presidente Donald Trump na corrida presidencial, após o atentando ao candidato republicano no último sábado, 13, embaralhou as expectativas para o futuro da economia dos Estados Unidos. Por ora, a perspectiva de piora fiscal em eventual governo Trump, adepto da política de corte de impostos, joga os juros longos para cima, o que castiga divisas emergentes.
O real e seus pares latino-americanos também sofrem hoje com a queda das commodities, especial as agrícolas, após a decepção com o crescimento do PIB da China no segundo semestre. Bancos revisaram para baixo as estimativas para o avanço da economia chinesa neste ano, que pode ficar abaixo da meta anual de 5%. Em tal cenário, a moeda brasileira até que se portou bem, com perdas bem menores que às dos pesos mexicano e chileno.
O momento de mais estresse se deu pela manhã, quando o dólar superou R$ 5,47 na máxima (R$ 5,4773). Na segunda etapa de negócios, houve um arrefecimento do ímpeto da moeda americana, que esboçou zerar a alta pontualmente no início da tarde durante declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sugerindo espaço para cortes de juros nos próximos meses. Além disso, o Ibovespa renovou máximas à tarde, com relatos de entrada de capital estrangeiro.
Com mínima a R$ 5,4315, a moeda encerrou o pregão cotada a R$ 5,4446, em alta de 0,25%. Em julho, o dólar ainda acumula desvalorização forte, de 2,57%. A liquidez foi reduzida, o que sugere ausência de apostas contundentes ou mudanças relevantes de posições dos investidores. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para agosto movimentou menos de US$ 8 bilhões.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, as moedas emergentes sofrem hoje com a queda firme das commodities, após a decepção com o resultado do PIB chinês, e o "efeito Trump" sobre os juros logos americanos.
"Vimos uma queda muito forte dos grãos em Chicago hoje, o que aponta para uma piora dos termos de troca. Além da questão de corte de impostos, podemos ter no governo Trump menor regulação da economia, o que é bom para as bolsas americanas", afirma Borsoi.
Referência do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operava em leve alta no fim da tarde, ao redor dos 104,200 pontos. As taxas do Treasuries longas avançavam, mas com menor ímpeto do que o visto pela manhã. O retorno do papel de 10 operava na casa de 4,22%, após máxima a 4,2474%. Já a taxa da T-note de 2 anos – mais ligada às perspectivas para o rumo da taxa básica americana – apresentou ligeiro recuo.
No início da tarde, durante evento do Clube Econômico de Washington, Jerome Powell disse que os dados recentes ampliaram a confiança no processo de desinflação e repetiu que o Fed não precisa ver a inflação na meta de 2% para começar a cortar os juros. Ele acrescentou que uma piora inesperada do emprego pode justificar o início do relaxamento monetário, mas disse que não daria "sinais hoje sobre corte de juros para alguma reunião específica".
As falas de Powell não alteraram as expectativas em torno do início e da magnitude da redução da taxa básica americana. Já levemente majoritárias na última sexta-feira, 12, as chances de um corte total de 75 pontos-base neste ano se consolidaram hoje. A visão predominante é de redução inicial em setembro, mas já se vê um movimento de aumento, ainda que tímido, de aposta para julho.
Para o economista André Perfeito, os investidores assimilam o impacto do atentado a Donald Trump, como pode ser observado hoje na reação do dólar e dos juros longos americanos. "Trump já era favorito. Então, não há uma novidade no sentido mais forte da palavra. Tivemos um susto hoje, mas as coisas tendem a se normalizar", afirma Perfeito. "Com corte de juros nos EUA, o real vai se apreciar um pouco mais ao longo do tempo".