O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 10, em alta moderada, mas acima da linha de R$ 5,15 no fechamento pela primeira vez em maio. O tropeço do real veio na esteira de nova rodada de avanço das taxas dos Treasuries, após piora das expectativas de inflação nos EUA e declarações duras de dirigentes do Federal Reserve, sugerindo que pode não haver espaço para corte de juros neste ano.
Apesar da composição benigna do IPCA de abril, a taxa de câmbio ainda carrega prêmios de risco associados à possível perda de credibilidade futura da política monetária, em razão da decisão dividida do Copom na última quarta-feira, 8. Além disso, não se dissiparam ainda os temores de que o justificado auxílio financeiro ao Rio Grande do Sul abra espaço para ampliação de gastos e abandono, mesmo que informal, das metas fiscais.
Na abertura dos negócios, o dólar até ensaiou uma queda, com devolução parcial dos ganhos de 1,01% ontem no pós-Copom, e registrou mínima a R$ 5,1187. Após máxima a R$ 5,1608 à tarde, em momento de mais estresse no mercado de Treasuries, a moeda encerrou o pregão em alta de 0,30%, cotada a R$ 5,1583. Na semana, a divisa acumulou valorização de 1,75%. No mês, ainda recua 0,65%.
"Ontem, a separação entre ambiente externo e interno foi bem demarcada, com o dólar fraco lá fora, mas subindo aqui com investidores projetando um Banco Central mais dovish no futuro. Hoje, o mercado local está mais calmo, com o dólar e os juros futuros em linha com o exterior", afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, acrescentando que explicações sobre os votos dos dissidentes na ata do Copom, que sai na próxima terça-feira, 14, podem mitigar parte das pressões sobre o real.
Apesar de o Copom ter reduzido a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual em um comunicado duro, reforçando a busca da meta de inflação com manutenção de taxa de juros em nível restritivo, houve desconforto com o fato de os quatro diretores que votaram por corte de 0,50 ponto porcentual terem sido indicados pelo governo Lula. Parte dos analistas vê risco de uma política monetária mais leniente e sujeita a interferências políticas em 2025, com a saída do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
"O mercado já vinha adicionando prêmio de risco em função da indefinição sobre o próximo presidente do BC e da questão fiscal. Isso piorou com a característica da divisão do Copom, entre diretores antigos e novos", afirma Garcia, do C6 Bank.
Depois de alívio ontem em meio ao resultado dos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA, as taxas dos Treasuries voltaram a subir hoje com deterioração das expectativas de inflação. O índice de sentimento do consumidor nos EUA elaborado pela Universidade de Michigan recuou, mas as projeções para a inflação em 1 e 5 anos pioraram.
As máximas dos Treasuries vieram após a diretora do Fed Michelle Bowman dizer que não vê espaço para redução de juros nos EUA neste ano. Dois dirigentes de distritais do BC americano – Neel Kashkari (Minneapolis) e Austan Goolsbee (Chicago) – reforçaram postura cautelosa na condução da política monetária.
"Apesar de termos a questão específica da ata do Copom no Brasil, o que deve dar a direção para o dólar na semana que vem são os números de inflação nos Estados Unidos", diz Garcia, em referência à divulgação, na quarta-feira, 15, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de abril.
No Brasil, o IPCA acelerou de 0,16% em março para 0,38% em abril, 0,05 ponto porcentual acima da mediana de Projeções Broadcast (0,33%). Mas foi o mais baixo para o mês desde 2021. Além disso, economistas ponderaram que a composição veio melhor, com menor pressão de núcleos e serviços subjacentes.