O real teve dificuldade de acompanhar seus pares nesta quinta-feira no mercado internacional. Mesmo com a inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) mais alta que o esperado em maio nos Estados Unidos, o dólar caiu na maioria dos emergentes, mas no mercado doméstico novamente operou volátil. Profissionais das mesas de câmbio destacam que a moeda brasileira teve desempenho bem melhor que outras divisas nas últimas semanas, e agora há um movimento de ajuste, em meio a dificuldade de romper a barreira psicológica dos R$ 5,00. Ao mesmo tempo, o Itaú já vê a moeda norte-americana caindo abaixo desse nível, fechando o ano em R$ 4,75.
Na mínima desta quinta, logo após o dado de inflação americana, o dólar caiu a R$ 5,03. No fechamento, acabou terminando em R$ 5,0658, com leve queda de 0,07%. No mercado futuro, o dólar para julho operava estável às 17h35, cotado em R$ 5,0730.
O CPI dos EUA superou as expectativas em maio, com alta de 0,6% e, no ano, chegando a 5%. Mas como ressaltam os estrategistas do banco americano Wells Fargo, o número é elevado, mas não o suficiente para tirar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) dos trilhos. Com essa visão, eles destacam que a moeda americana passou a cair, enquanto o euro ganhava força após o Banco Central Europeu (BCE) sinalizar manutenção dos estímulos e reforçar a visão de inflação transitória. Os juros longos americanos também caíram, com o papel de 10 anos seguindo abaixo de 1,5%.
"O CPI veio bastante salgado, mas há uma unanimidade no Federal Reserve", destaca o chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna. Ele observa que há uma pressão importante na inflação dos EUA agora, mas que tende a se diluir, conforme a visão que predomina no Fed. "Acho que o fenômeno inflacionário nos EUA é temporário. Essa visão é compatível com que o Fed avalia. Não me lembro de ter visto tamanha unanimidade há anos", disse nesta quinta em evento do jornal O Estado de S. Paulo.
No Brasil, Senna destaca que o câmbio melhorou com a atividade econômica mostrando números acima do previsto, com forte arrecadação e cenário fiscal mais positivo. Com o risco fiscal fora das discussões por ora, não só o real ganhou força, mas a bolsa e as emissões corporativas tiveram forte alta. Apesar do otimismo, Senna observa que os problemas persistem e ele avalia ainda que o Banco Central vai acabar fazendo um ajuste total nos juros, e não apenas parcial.
"O otimismo com a economia e a esperança de que o Banco Central deve fazer um ajuste mais do que parcial na taxa básica de juros tem ajudado a apreciar o real", comentam as analistas de moedas e emergentes do alemão Commezbank, Alexandra Bechtel e Melanie Fischinger.
Apesar da melhora da moeda brasileira, elas seguem cautelosas, por conta de riscos específicos do Brasil, ligados à pandemia e ao processo de vacinação, além do ambiente político, na medida em que se aproxima das eleições de 2022. Neste ambiente, elas ainda veem o dólar acima de R$ 5,00 até ao menos o final do ano que vem.
Já o Itaú reduziu sua projeção nesta quinta e vê o dólar caindo a R$ 4,75 ao final do ano. Anteriormente, a estimativa era de R$ 5,30. O fortalecimento do real reflete a melhora da atividade, que ajuda a melhorar os indicadores fiscais, a alta dos preços das commodities e a elevação da taxa básica de juros, destaca relatório do banco.