O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 24, em queda de 0,47%, cotado a R$ 4,9321, em dia marcado por enfraquecimento da moeda americana no exterior e alta dos preços de commodities, na esteira da decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de reduzir depósitos compulsórios para injetar liquidez no sistema financeiro. Foi o segundo pregão seguido de baixa do dólar no mercado doméstico, reduzido a alta na semana para apenas 0,11%. Em janeiro, a divisa avança 1,62%.
Pela manhã, o dólar à vista desceu até a casa de R$ 4,90 ao registrar mínima a R$ 4,9090. Mas no início da tarde já reduzia o ritmo de baixa com moderação da queda das taxas dos Treasuries, após leituras acima do esperado de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços e indústria nos EUA em janeiro.
Na última hora de pregão, com avanço das Treasuries na esteira de leilão fraco de títulos de 5 anos nos EUA e a virada do Ibovespa para o campo negativo, o dólar à vista alcançou o nível de R$ 4,93 e renovou máxima a R$ 4,9374, ainda em baixa. Embora o quadro externo tenha guiado os negócios, a informação do vice-presidente Geraldo Alckmin de que não haverá aportes no BNDES e que a nova política industrial não trará despesas acima do já previsto no orçamento contribuiu marginalmente para o desempenho do real.
O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que os ruídos no quadro político neste início de ano, em meio ao recesso parlamentar, e, sobretudo, dados mostrando que a economia americana ainda "está quente" levaram o dólar a operar acima do nível de R$ 4,90 nos últimos dias.
"Ainda não temos solução à vista para a MP (da reoneração) e apareceu um pacote industrial que retoma uma coisa amarga do governo de Dilma (Rousseff). Isso provocou muito ruído e ajudou na alta do dólar", afirma Monoli, para quem ainda é preciso esperar como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai conduzir a agenda econômica e os primeiros resultados fiscais deste ano para que haja uma ideia mais clara sobre o cenário doméstico.
Lá fora, os últimos números da economia americana vieram acima do esperado e esfriaram as chances em corte de juros pelo Federal Reserve em março, com a maioria das apostas recaindo agora sobre maio. A agenda americana é carregada nos próximos dias. Amanhã, 25, além dos pedidos semanais de auxílio-desemprego, será divulgada a primeira leitura do PIB americano no quatro trimestre. Na sexta-feira, 26, sai o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Banco Central americano – referente a dezembro.
"O cenário para o Brasil e o real não mudou. A economia vai rodar no positivo, o diferencial de juros é favorável e o saldo comercial será forte. Em meados de fevereiro e março, devem entrar recursos da safra, com o fluxo servindo de barreira para proteger o real", afirma Monoli. "Se as próximas rodadas de inflação nos EUA mostrarem arrefecimento e se confirmar corte de juros no primeiro semestre, ainda que seja de apenas 0,25 ponto, o dólar pode voltar a cair e buscar nos próximos meses mínimas vistas no ano passado", acrescenta Monoli, para quem o mercado já descartou a possibilidade de déficit primário zero neste ano e tende a relevar um rombo entre 0,5% e 1% do PIB.