O dólar à vista emendou nesta quarta-feira, 6, o segundo pregão seguido de queda no mercado doméstico de câmbio, mas ainda se manteve acima da linha de R$ 4,90. Dados abaixo do esperado do mercado de trabalho dos EUA levaram à perda de fôlego da moeda americana em relação a divisas emergentes e ao recuo das taxas dos Treasuries longos. Investidores sustentam as apostas em redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) a partir de março de 2024.
Com sinal negativo desde a abertura, o dólar à vista chegou a romper o piso de R$ 4,90 no fim da manhã e registrou mínima a R$ 4,8891 (-0,74%). Ao longo da tarde, com ajustes intraday e piora do Ibovespa, que renovou mínimas abaixo da linha de 126 mil pontos, a moeda reduziu o ritmo de baixa e passou a orbitar os R$ 4,90. No fim do dia, o dólar à vista era cotado a R$ 4,9024, recuo de 0,47%. Na semana, a divisa ainda apresenta valorização de 0,44%, graças à alta de 1,39% na segunda-feira.
No exterior, o índice DXY – termômetro do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – trabalhou ao longo do dia ao redor da estabilidade, mas apresentava leve avanço no fim da tarde, próximo dos 104,200 pontos. A moeda americana recuava na comparação com divisas emergentes e de exportadores de produtos básicos. Entre as commodities, o minério de ferro subiu mais de 2%, ao passo que a cotações do petróleo desabaram. O contrato do tipo Brent para fevereiro fechou em queda de 3,75%, a US$ 74,30 o barril.
"Hoje foi um dia de alívio no mercado de câmbio, que respondeu a dados mais fracos do mercado de trabalho nos EUA. Houve queda nas taxas dos Treasuries com o mercado precificando queda de juros a partir do início do próximo ano, o que favorece moedas emergentes", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, para quem ainda é cedo para dizer que a uma tendência de apreciação do real. "O mercado de câmbio tem oscilado bastante com indicadores da economia americana e na próxima sexta-feira teremos o payroll", acrescenta, em referência à divulgação do relatório de emprego dos EUA em novembro, no dia 8.
Relatório ADP revelou que o setor privado dos Estados Unidos gerou 103 mil vagas de trabalho em novembro, abaixo das expectativas (120 mil). Houve também revisão para baixo dos números de outubro (de 113 mil para 106 mil). Já o Departamento de Trabalho dos EUA informou que o custo unitário da mão de obra no país caiu a um ritmo anualizado de 1,2% no terceiro trimestre, abaixo da leitura preliminar e da previsão de analistas (-0,8%). Esses números se somam à queda na abertura de postos de trabalho nos EUA na passagem de setembro para outubro, segundo relatório Jolts divulgado ontem, e aumentam as expectativas de que o payroll confirme moderação do mercado de trabalho – um dos quesitos para continuidade do processo de desinflação e eventual relaxamento monetário nos EUA.
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressalta que a curva de juros americana passou a precificar corte de 130 pontos-base pelo Federal Reserve em 2024, em razão dos dados mais recentes do mercado de trabalho. Ele também observa que existe expectativa de queda superior a 120 pontos-base da taxa de juros na Europa, na esteira de leituras mais baixas de inflação ao consumidor. "A percepção de corte de juros nos EUA e na zona do euro é o principal driver para os preços dos ativos. Mantemos o cenário de valorização do real por conta dos bons fundamentos das contas externas e recuo do prêmio de risco pais", afirma Oliveira.