Estadão

Dólar à vista fecha a R$ 4,7473 e acumula queda de 5,35% na semana

Em queda pelo oitavo pregão consecutivo, o dólar rompeu o piso de R$ 4,80 na sessão desta sexta-feira, 25, e fechou em baixa de 1,75%, a R$ 4,7473 – perto da mínima do dia (R$ 4,7443) e no menor valor desde 11 de março de 2020. Nos últimos cinco dias, a moeda norte-americana acumula perda de 5,35%, a maior desvalorização semanal desde a primeira semana de novembro de 2020 (- 6%).

Analistas atribuem o fortalecimento expressivo do real, que lidera os ganhos entre as divisas emergentes neste ano, a dois fatores: perspectiva de superávits comerciais robustos – na esteira da aposta de que as commodities seguirão em patamares elevados com o prolongamento da guerra na Ucrânia – e amplo diferencial de juros doméstico e externo, a despeito de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já ter sinalizado elevações sucessivas da taxa básica dos Estados Unidos.

Apesar da alta do IPCA-15 de 0,95% em março, acima da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (0,86%), os juros futuros recuaram.

Em evento nesta sexta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou que o plano de voo do BC é encerrar o aperto monetário em maio, com alta final da Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75%. Como é de praxe, Campos Neto também deixou a porta aberta para alta residual em junho, dado que "há uma grande incerteza sobre a extensão da crise". Mesmo sem superar os 13%, como preveem casas como Credit Suisse e Citi, a taxa básica vai estacionar em níveis elevados e proporcionar um juro real que atrai o chamado "smart money".

Dados do fluxo cambial na semana entre 14 e 18 de março, divulgados no início da tarde desta sexta pelo Banco Central, mostraram saldo negativo de US$ 1,037 bilhão, com saída líquida de US$ 1,575 bilhão pelo canal financeiro e entrada de US$ 538 milhões via comércio exterior. Nos últimos dias, contudo, operadores voltaram a relatar forte entrada de recursos externos, além de postura mais ativa dos exportadores, que estariam antecipando fechamento de câmbio.

Apesar do tropeço na semana passada, o fluxo cambial total é positivo em US$ 1,612 bilhão em março e em US$ 9,466 bilhões no acumulado do ano. Argumenta-se também que, com a taxa real de juros elevada, é muito caro fazer hedge (proteção) ou apostar contra a moeda brasileira, o que tem levado a um desmonte de posições cambiais defensivas no mercado futuro.

"Voltamos para o cenário de juros altos e câmbio baixo, que era o que o Paulo Guedes (ministro da Economia) tanto atacava. Esses juros atraem muitos investidores para o <i>carry trade</i>. Vimos fortes investimento nos leilões do Tesouro nesta semana", afirma o economista Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. "A guerra também coloca o Brasil como uma boa opção entre emergentes, já que a Rússia sai do cenário. Somos um dos emergentes grandes produtores de commodities."

Nos últimos oito pregões, o dólar saiu do patamar de R$ 5,15 para a casa de R$ 4,74, garantindo um recuo de 7,92% para a divisa em março e levando as perdas no ano para 14,86%. Em 2021, marcado por forte debate em torno da deterioração das condições fiscais, a divisa havia subido 7,36%.

"Tivemos uma explosão nos termos de troca por causa da guerra, favorecendo os produtores de commodities. Além disso, veremos Selic próxima de 13%, o que favorece o carrego e encarece o hedge", afirma, em post no Twitter, o ex-tesoureiro do Bradesco Alfredo Menezes, sócio da Armor Capital.

Menezes não acredita que o movimento de alta das commodities seja permanente e, por isso, aposta em um dólar de equilíbrio mais elevado. Ele evita, contudo, montagem de posições compradas em dólar neste momento, dado o custo elevado por conta dos juros altos. "Vemos uma enxurrada de smart money ainda no Brasil. Estamos esperando o fluxo diminuir para tomar uma posição ativiada (em dólar)", escreve o sócio da Armor Capital.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o movimento de apreciação do real deve persistir. "Reestimamos o suporte do dólar a R$ 4,57 em nosso modelo econométrico", afirma Velho, em relatório, ressaltando que os ingressos externos para a bolsa "não dão trégua", já tendo superado R$ 22 bilhões em março.

Além da valorização das commodities e da taxa Selic, o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, observa que o desfecho das eleição presidencial não assusta os investidores, pois o mercado já conhece bem os dois favoritos – o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É uma eleição com um cenário que você já consegue traçar. Você consegue desenhar como seriam os governos. O estrangeiro consegue trabalhar com a continuidade do governo Bolsonaro ou volta do presidente Lula. Por isso, está tendo esse fluxo forte para cá", diz Cruz.

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