Estadão

Dólar à vista sobe 0,43% após decepção com corte de juros na China

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 20, em leve alta no mercado doméstico de câmbio, em meio a ajustes e movimentos de realização de lucros estimulados pela onda de fortalecimento da moeda americana no exterior. Um corte abaixo do esperado dos juros pelo Banco do Povo da China (PBoC) lançou dúvidas sobre o ritmo de crescimento da segunda maior economia global e deprimiu os preços de commodities metálicas e do petróleo. Em clássico movimento de busca por proteção, investidores reduziram exposição em ações e moedas emergentes para se abrigar nos Treasuries, cujas taxas recuaram.

Em alta desde a abertura, o dólar chegou a superar o teto de R$ 4,80 no fim da manhã, ao correr até a máxima de R$ 4,8087, mas perdeu parte do fôlego ao longo da tarde. No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 4,7961, em alta de 0,43%. O real apresentou desempenho superior a de seus pares latino-americanos, à exceção do peso colombiano, e da maioria das divisas de exportadores de commodities. Em junho, o dólar apresenta desvalorização de 5,46%. Houve melhora da liquidez no retorno dos negócios em Nova York após o feriado de ontem nos Estados Unidos. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar para julho teve giro superior a US$ 11 bilhões.

"Tivemos um movimento de realização hoje no câmbio, mas a sensação é que o dólar pode cair ainda mais. Existe um fluxo muito estrangeiro muito forte para o Brasil pelos juros altos e para a bolsa", afirma o economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho, acrescentando que o novo arcabouço fiscal e a redução das expectativas de inflação melhoraram a percepção de investidores em relação ao Brasil.

Segundo operadores, o adiamento da votação do marco fiscal no Senado não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio. As atenções estão voltadas para o comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que deve anunciar amanhã manutenção da taxa básica em 13,75%. A expectativa é que o colegiado dê sinais de que pode iniciar um ciclo de corte da Selic no segundo semestre, talvez em agosto, dado o arrefecimento da inflação corrente, a melhora das expectativas e a rodada recente de apreciação da moeda brasileira.

O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, observa que mesmo com redução da Selic, a taxa real de juros seguirá elevada em razão da inflação mais baixa, o que manterá a atratividade das operações de "carry trade". Não haveria sobressaltados no mercado de câmbio, diz Rolha, caso o Copom optasse por uma redução de 0,25 ponto em agosto, seguida por corte de 0,50 ponto em setembro.

"O estrangeiro deve continuar vindo ao Brasil. Além disso, temos mais entrada de recursos de exportadores e menor propensão de manutenção das posições compradas em dólar", afirma Rolha, que vê a taxa de câmbio operando possivelmente em uma banda entre R$ 4,70 e R$ 4,80 no curto prazo, caso não haja surpresas negativas. "Está cada vez mais difícil o dólar voltar a R$ 5,00. Para baixo, tem um suporte técnico relevante em R$ 4,69".

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