O dólar à vista iniciou agosto em alta firme no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de valorização da moeda americana no exterior e o avanço das taxas dos Treasuries. Dados fracos de atividade industrial na Europa e, em especial, na China lançaram dúvidas sobre a trajetória de preços de commodities e detonaram um movimento de realização de lucros com divisas emergentes.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar acelerou os ganhos ao longo da tarde e flertou com o nível de R$ 4,80 ao registrar máxima a R$ 4,7998. No fim da sessão, a moeda era negociada a R$ 4,7895, em alta de 1,27%, após ter encerrado julho com desvalorização de 1,25%. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para setembro apresentou bom giro, acima de US$ 13 bilhões.
Operadores notaram que o ambiente de cautela diante das dúvidas sobre a magnitude do provável corte inicial da taxa Selic amanhã pelo Comitê de Política Monetária (Copom) também contribui para recomposição parcial de posições defensivas no mercado futuro de câmbio. Na curva de juros futuros, a aposta majoritária é de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. A maioria dos economistas ainda mantém projeção de corte inicial de 0,25 ponto. Em todo caso, já se vislumbra Selic na casa de 9% até o fim do ano que vem.
Embora a perspectiva seja de que, mesmo com as reduções da taxa Selic nos próximos meses, o Brasil continue a oferecer taxas reais atraentes aos estrangeiros, é natural que haja um movimento de ajuste de carteiras com mudança da política monetária. O real e as demais divisas latino-americanas de países com juros altos, como peso mexicano e colombiano, exibem os maiores ganhos em relação ao dólar no ano entre as moedas mais relevantes.
"Os preços dos ativos refletem os fracos dados de atividade econômica industrial tanto na China quanto na zona do euro. A maior parte das moedas perde valor para o dólar por conta do aumento da incerteza. Dentre as moedas de mercados emergentes, os destaques negativos são o dólar australiano, o rand sul-africano e o dólar da Nova Zelândia, por serem economias bastante expostas à economia chinesa", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, pondera que, em contraposição a dados fracos da China e da zona do euro, a economia americana ainda mostra resiliência, o que dá sustentação ao dólar. "Foi um dia de pressão para moedas emergentes e para o real. Temos divulgação do payroll relatório de emprego na sexta-feira, o que pode mexer com as projeções para as decisões do Federal Reserve", afirma.