Já em baixa firme pela manhã com diminuição dos riscos fiscais na esteira da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável ao governo e de sinais de entrosamento entre o Banco Central e o ministério da Fazenda, o dólar à vista acentuou o ritmo de queda ao longo da tarde desta quinta-feira, 27, e voltou a romper o piso psicológico de R$ 5,00.
Esse movimento se deu em linha com o ambiente mais propício ao risco no exterior, que impulsionou divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Termômetro do comportamento do dólar frente a seis moedas fortes, o índice DXY – que havia subido com força pela manhã após divulgação do PIB dos EUA do primeiro trimestre abaixo do esperado e da aceleração do índice de preços de gastos com consumo (PCE) – praticamente zerou os ganhos ao longo da tarde.
Com renovação de sucessivas mínimas nas duas últimas horas de negócios, a moeda desceu até R$ 4,9707 (-1,71%). No fim da sessão, o dólar recuava 1,52%, cotado a R$ 4,9802 – menor valor de fechamento e abaixo de R$ 5,00 desde o último dia 18 (R$ 4,9759). Após o tombo de hoje, o dólar passou a acumular desvalorização de 1,74% em abril. O real apresentou hoje o melhor desempenho frente à moeda americana entre as divisas globais mais relevantes.
Operadores relataram forte pressão vendedora no mercado futuro de câmbio, com desmonte de posições defensivas e início de rolagem de contratos, na véspera da formação da última taxa Ptax do mês. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve bom giro, na casa de US$ 14 bilhões.
"Tivemos uma forte redução de hedge cambial quando o dólar tocou R$ 4,90 neste mês e hoje estamos vendo um pouco da retomada desse movimento. Havia gordura para queimar depois que o dólar atingiu R$ 5,08", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos André Rolha, para quem a moeda pode voltar a se aproximar de R$ 4,90 se não houver ruídos do lado fiscal.
O desempenho exuberante da moeda brasileira é atribuído, sobretudo, a uma redução de prêmios associados ao risco fiscal, após a decisão do STJ favorável ao governo, com autorização da cobrança de IRPJ e CSLL sobre benefícios fiscais de ICMS. Estima-se que isso possa reforçar a arrecadação em R$ 90 bilhões, contribuindo para que o governo alcance as metas previstas na proposta do novo arcabouço fiscal. Embora o julgamento do STJ tenha sido suspenso por decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, a pedido associação do agronegócio, a decisão animou os investidores. A liminar de Mendonça deve ser apreciada no plenário do STF na próxima semana.
"A percepção de que a decisão de ontem do STJ ajudará no esforço fiscal do governo é um dos fatores por trás do movimento de hoje do dólar", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressaltando que "há meses" tem dito que os fundamentos macroeconômicos apontam para uma valorização da taxa de câmbio. "Temos que nos acostumar aos ruídos, que não alteram a tendência, mas trazem volatilidade à moeda".
Em debate no Senado sobre a taxa de juros com presença dos titulares da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que é preciso "reconhecer grande esforço do governo com real possibilidade de estabilizar a dívida".
"Campos Neto já havia dito que o arcabouço tira o risco de crescimento explosivo da dívida. Essa decisão do STJ é na margem um sinal positivo pode ajudar o governo a cumprir a meta fiscal, o que contribuiu para a queda do dólar", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que a manutenção de taxa de câmbio abaixo de R$ 5,00 ainda não é sustentável, dadas as dúvidas no front fiscal.