Estadão

Dólar zera alta da semana e cai a R$ 5,2363, maior baixa desde o pós-eleição

O dólar caiu 2,16% em relação ao real nesta sexta, 6, a R$ 5,2363, na maior baixa diária desde 31 de outubro (-2,54%), o primeiro pregão realizado após o segundo turno das eleições presidenciais. Para analistas, o movimento reflete a redução do ruído político do País após o "alinhamento" do discurso do governo promovido na primeira reunião ministerial nesta sexta-feira, que permitiu à moeda brasileira acompanhar a tendência de enfraquecimento global do dólar observada ao longo da sessão.

"As últimas declarações de ministros tinham atacado aspectos muito importantes da economia brasileira para os investidores, como a reforma da Previdência, a trabalhista e o arcabouço fiscal. O ajuste do discurso ajudou o real a embarcar nesse movimento internacional de perda de força do dólar", resume a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "Só o fato de tentar reduzir esses ruídos foi o suficiente, momentaneamente, para diminuir a percepção de risco."

A divisa americana entrou em queda – global e por aqui – em meados da manhã, quando o mercado viu no crescimento menor do que o esperado dos salários médios por hora no payroll dos Estados Unidos um sinal de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode adotar uma política monetária menos dura à frente. Por volta das 15 horas, declarações do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), ajudaram a aprofundar a baixa da moeda ante o real.

Embora tenha rejeitado a ideia de que a reunião tenha servido como um "puxão de orelha" aos colegas da Esplanada, o papel de "porta-voz" assumido por Costa reforçou no mercado a percepção de um "freio de arrumação" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no discurso dos ministros. O ex-governador da Bahia já havia sido responsável, esta semana, por assegurar que o governo não pretende voltar atrás na reforma da Previdência, após declarações neste sentido por parte do ministro da área, Carlos Lupi (PDT).

A partir das 15h17 – minutos após as declarações do petista -, o dólar aprofundou a tendência de queda observada desde a divulgação do payroll, quando cedeu entre 1,0% e 1,80%, e firmou baixa em torno de 2,0% em relação ao real, no nível de R$ 5,24. Às 16h46, testou a mínima, em R$ 5,2333, após máxima de R$ 5,3691 (+0,31%), atingida às 9h01, no primeiro minuto da sessão.

A combinação entre o enfraquecimento global do dólar – em um dia no qual o índice DXY operou em baixa de 1,0% – e o alívio do risco doméstico levaram a divisa americana a encerrar a semana em queda de 0,83% em relação ao real. Até a última quarta-feira, 4, a divisa americana acumulava ganho de 3,27% ante a brasileira, na esteira das declarações de ministros em defesa da revisão de reformas.

Para a chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Roberta Folgueral, a combinação dos fatores externos e domésticos explica o desempenho do real, que encerrou o dia com os maiores ganhos entre os pares emergentes e exportadores de commodities. Hoje, a divisa americana cedeu cerca de 1,90% em relação ao dólar australiano e 0,90% ante a moeda canadense, e perdeu cerca de 0,30% na comparação com o rand sul-africano, diante da visão de um aperto monetário menos intenso nos EUA.

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