Ainda que sem relação direta, a primeira missão tripulada ao espaço desde 2011, fruto de uma parceria entre uma empresa privada que tem o empreendedor Elon Musk à frente e a Nasa, representou neste sábado um breve momento de alegria e inspiração diante de uma pandemia que já vitimou mais de 5,9 milhões de pessoas em todo o mundo. Se é possível levar o homem ao espaço – e fomos todos lembrados disso ontem, a partir de transmissão ao vivo pela internet da Flórida, nos Estados Unidos, é possível vencer uma pandemia, um inimigo silencioso que matou mais de 365 mil pessoas.
O foguete Falcon 9 deixou o solo norte-americano pontualmente às 16h22 (horário de Brasília) com os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley em direção à Estação Espacial Internacional. É a primeira vez que uma empresa privada realiza um lançamento à órbita da Terra; até então apenas as espaçonaves governamentais chegavam a tais alturas. O lançamento ocorreu na segunda tentativa: ele inicialmente estava previsto para a última quarta-feira, 27, mas houve adiamento por causa do mau tempo na Flórida, onde fica o Centro Espacial Kennedy.
Desta vez o clima local ajudou e o foguete foi lançado sob os olhares de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que acompanhou tudo de perto. A viagem dos astronautas até a Estação Espacial Internacional deverá durar 19 horas. Partes do foguete usado para o lançamento dos astronautas ao espaço foram recuperadas minutos após a decolagem, em imagens também transmitidas ao vivo pela internet.
A agência espacial americana pretende, em parceria com a empresa aeronáutica Boeing e à Space X – para a qual concedeu US$ 3,1 bilhões com o objetivo de desenvolver cápsulas especiais -, estimular o mercado comercial de viagens para fora da Terra.
O lançamento deste sábado marca a primeira vez em que uma empresa privada participa de um lançamento espacial em território norte-americano. Desde 2011, é a Rússia quem tem transportado os astronautas da Nasa ao espaço, por meio da espaçonave Soyuz. A agência espacial americana decidiu aposentar os ônibus espaciais em 2011, decisão tomada após acidente com a nave Columbia oito anos antes.
A SpaceX testou com sucesso a Crew Dragon sem astronautas no ano passado, na sua primeira missão à estação espacial. O veículo, entretanto, acabou destruído no mês seguinte durante teste em solo quando uma das válvulas do sistema de emergência explodiu. O caso levou a uma investigação que se estendeu por nove meses e foi encerrada em janeiro.
Recentemente, ao chegar ao centro espacial Kennedy, Behnken, 49 anos, comparou o trabalho que levou ao lançamento de ontem a uma maratona. Ele rememorou à agencia Reuters, entretanto, que é isso que se pode esperar no desenvolvimento de um veículo capaz de transportar humanos ao espaço. Um dos objetivos do projeto é desenvolver veículos reutilizáveis e que, dessa forma, possam reduzir os custos de uma viagem espacial. Vida longa e próspera.
<b>Projeto ousado</b>
A Space Exploration Technologies, SpaceX, é vista nos Estados Unidos como uma improvável história de sucesso no empreendedorismo. Elon Musk contrariou alertas de pessoas próximas, que falavam sobre a falta de experiência dele na área, e investiu US$ 100 milhões na sua ideia. Dezoito anos depois, a empresa tem 7 mil funcionários e enfrenta o seu maior teste.
Antes de chegar ao patamar de formar uma parceria com a Nasa, a SpaceX enfrentou dificuldades nos seus primeiros anos. Três lançamentos consecutivos não chegaram à órbita, impondo prejuízo financeiro significativo a Musk. Quando o quarto lançamento, em 2008, conseguiu colocar um satélite de mentira no espaço, a empresa se aproximou rapidamente da agência americana, para quem passou a transportar suprimentos para a estação espacial internacional.
Parte do sucesso da empresa pode ser atribuído à mentalidade de reaproveitamento de partes de foguetes, que antes eram descartadas após um único uso. Agora, depois do lançamento, eles voltam a pousar, gerando economia significativa para a SpaceX. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>