É difícil fugir do clichê “negócio da China”. Em visita a quatro das maiores empresas da China, com sua estratégia de fazer pedidos, o prefeito João Doria (PSDB) recebeu ao menos R$ 8,5 milhões em presentes para a capital paulista durante a semana. Com a viagem – e as doações -, Doria conseguirá por em pé seu programa City Câmeras, de monitoramento eletrônico, ainda este ano, bem antes do fim do prazo proposto, que era até 2020.
Só de câmeras, os chineses doaram 4 mil equipamentos, mil de cada fabricante visitado. Para se ter ideia, até três semanas atrás, a Prefeitura possuía 350 equipamentos do tipo. Feitas as instalações, todas elas terão as imagens transmitidas online e exibidas em um site específico do City Câmeras.
“Precisamos colocar a cidade em outro patamar de segurança, e câmeras ajudam muito”, disse Doria ontem, na última coletiva de imprensa na China. Ele disse não temer que os pedidos fossem mal interpretados por empresários, “até porque tem muita clareza” de que pedepara ajudar a cidade.
Os chineses receberam Doria com a maior hospitalidade possível.
De show room em show room, ele falou sobre sua proposta de tocar Parceria Público-Privada (PPP) para o setor de segurança e destacou o papel que São Paulo tem para disseminar tecnologias no País. A sigla mágica era “PPP”, que os chineses falavam em português e sorriam ao ouvir, mostrando vontade de fazer negócios com a Prefeitura em futuro próximo.
Big Brother
Mais do que pedir as doações, a viagem do prefeito será marcada por inaugurar a era “big brother” em São Paulo. Na China, câmeras já fazem reconhecimento facial e conseguem apontar onde uma pessoa esteve e identificar mascarados. “As áreas centrais da cidade são prioritárias, sobretudo as de comércio popular, como as Ruas José Paulino e 25 de março, a região do Brás e o centro”, disse Doria. Segundo ele, a cidade deve contar em 2020 com 10 mil câmeras – Xangai tem 2 milhões de aparelhos.
“Você já recebeu 3 mil câmeras, e isso é boa notícia, mas você pode ter criado problemas”, disse Hong-Eng Koh, chefe global de expertise em segurança pública da Huawei, uma das empresas doadoras. “Tenha cuidado com coisas de graça.”
E as câmeras não foram o único item da agenda na China. Em Pequim e Xangai, Doria circulou por bancos, fundos de investimentos e agências de desenvolvimento, que não fizeram doações. Mas todas demonstraram interesse em abrir linha de crédito para propostas do Plano Municipal de Desestatização, que inclui a concessão do Pacaembu e do bilhete único e a venda do Autódromo de Interlagos.
Ainda na área da segurança, Doria recebeu dois drones, que serão usados no monitoramento diário das ruas, em especial da cracolândia. Ganhou ainda 200 rádios comunicadores, que ficarão com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), quatro carros elétricos e painéis solares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.