Começaria Tudo Outra Vez é o título do documentário de Nelson Hoineff dedicado a Cauby Peixoto. O cantor faz parte da galeria de tipos polêmicos retratados pelo diretor – os outros são Chacrinha e Paulo Francis. Todos famosos, todos controversos, todos capazes de despertar opiniões apaixonadas e conflitantes. Talvez Cauby, acima de todos, porque foi um imenso ídolo popular e, ao mesmo tempo, um tanto esnobado por parcela mais sofisticada de ouvintes. O filme trabalha nessa ambivalência.
Ouve um Cauby já um tanto debilitado pela idade, movendo-se e falando com certa dificuldade. No entanto, ainda se mostra agudo e corajoso, por exemplo ao falar da homossexualidade com toda a franqueza, ele que enfrentou preconceitos em tempos menos tolerantes que o nosso.
A ideia que se tem de Cauby Peixoto é a de um cantor de voz monumental, que gravou coisas ótimas, mas se descuidou do repertório. Ou talvez o tenha formatado na direção do êxito mais fácil. Em todo caso, o filme não discute questões estéticas. Parece mais preocupado em checar em que consiste a imagem de um ídolo perante o seu público.
Por isso, além da entrevista com o próprio cantor, Hoineff dá a palavra a fãs e mescla imagens atuais a material de arquivo, expondo o contraste do artista quando jovem e já na maturidade.
Para desmentir a crença de que os fãs de Cauby pertencem todos à terceira idade, encontra um admirador jovem, no bairro de Olaria, no Rio, um verdadeiro fanático do intérprete de Conceição e Começaria Tudo Outra Vez. É como se satisfizesse o desejo de juntar as duas pontas da história de um ícone, e mostrasse a durabilidade de um artista popular cuja carreira começou no tempo da Rádio Nacional. Uma bela homenagem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.