Duas grandes vidas, sem dúvida. A de um cineasta, com dois pés fincados nas artes plásticas, David Lynch. E a de um grande ator, para muitos o maior do seu país, Toshiro Mifune. Retratadas em dois belos documentários: David Lynch: A Vida de um Artista, direção de Jon Nguyen, Olivia Neergaard-Holm e Rick Barnes, e Mifune: o Último Samurai, de Steven Okazaki.
O próprio Lynch descreve sua vida enquanto trabalha em seu estúdio. Suas mãos moldam e pintam, enquanto ele reflete sobre sua trajetória, da pequena cidade de Missoula até algo que muda tudo, uma bolsa de estudos do American Film Institute, que viabilizou seu primeiro longa, Eraserhead.
Mas o doc para por aí. Não avança até os grandes sucessos cult de Lynch, Veludo Azul e Twin Peaks. Limita-se aos, digamos assim, materiais de construção com que ele trabalha para criar os pilares de sua carreira de cineasta. É um Lynch pré-cinema, mas que ajuda demais na compreensão do Lynch cineasta. Em especial, por sua atenção aos dados da mente profunda, do acaso, a importância da escolha das imagens, a preservação do mistério das coisas, os limites da compreensão racional – tudo isso que, aplicado em filmes, resulta numa obra de límpida estranheza, mas que não deixa de tocar seu público. Apenas se comunica em um nível segundo, numa espécie de conversa íntima de inconsciente para inconsciente.
Já O Último Samurai tem seu grande trunfo na riqueza do material apresentado, fato que se deve à carreira longa e produtiva do personagem. Toshiro Mifune participou de mais de 170 filmes e tornou-se o grande ator da era de ouro do cinema japonês. Em especial, encarnando a figura do Samurai, do guerreiro medieval. Desses 170 filmes, nada menos de 16 foram feitos sob a batuta do grande mestre Akira Kurosawa, em obras-primas como Rashomon e Yojimbo. Dois títulos que tiveram grande influência no mundo todo. Mas Toshiro, para faturar, trabalhou em obras muito comerciais. E enfrentou problemas com o alcoolismo, fato que o filme não esconde.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.