Há exatos dois anos, no dia 27 de março, Guarulhos inaugurou o Centro de Combate ao Coronavírus (3CGRU), um dos primeiros hospitais de campanha do Brasil, que, durante pouco mais de cinco meses de funcionamento, possibilitou que mais de 600 pessoas, internadas em leitos de UTI ou de alta complexidade, pudessem retornar às suas casas, salvas da doença que assolou o mundo desde março de 2020.
A decisão de abrir o hospital foi publicada em decreto quinze dias antes, assim que foi decretada a pandemia. Na ocasião, a Covid-19 ainda era vista por muitos como provisória e a administração foi alvo de críticas pela ação de montar o equipamento. Além das centenas de vidas salvas, pouco mais de 120 transferências foram realizadas no mesmo período. “Não havia naquele momento qualquer exemplo no país de um hospital de campanha estruturado. Era necessário estabelecer um modelo e agir. Enfrentamos uma guerra invisível. Não dava para esperar o inimigo avançar. Precisamos nos antecipar e garantir que nenhum guarulhense ficasse sem atendimento hospitalar”, disse o prefeito Guti ao encerrar o 3CGru, em setembro.
O complexo, que funcionava 24 horas e ocupava uma área de 5 mil m² em frente ao ginásio do Cecap, contava com 14 respiradores mecânicos para pacientes graves e cerca de 200 profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, equipe de limpeza, segurança, entre outros. Na área construída, havia tendas, carreta com tomógrafo e espaço para estacionamento de ambulâncias. Com o avanço da pandemia, ele chegou a ser ampliado e contou com quase 30 UTIs em funcionamento. Em alguns momentos, a ocupação foi de 100%.
Na unidade, quase 40 mil atendimentos, incluindo internações, consultas médicas e encaminhamentos para isolamento domiciliar, foram realizados. Cerca de 90 mil exames (bioquímicos, ultrassom, tomografia computadorizada e raio X) e registrados 86 óbitos. A taxa de recuperação foi de 87,5%, números expressivos pela complexidade dos atendimentos – a maioria grave – e a ocasião, ainda sem vacina contra a doença.
Entre os casos mais emblemáticos, a alta de dona Nenê. Quase centenária, a senhorinha foi atendida no local e saiu aos risos após curar-se da doença no complexo. Quase dois anos após a cura, ela ainda vive numa casa de repouso na Vila Augusta. Nenê, que enfrentou gripe espanhola e Segunda Guerra Mundial, foi uma das 600 pessoas que ganharam outra chance em um espaço que ganhará espaço nos livros sobre a história de Guarulhos.
Dona Nenê, de 100 anos, deixa hospital de campanha no Cecap após se curar da Covid-19