Pensar e refletir sobre a imagem contemporânea se torna cada dia mais importante e fundamental. Não podemos mais analisar – na verdade, nunca pudemos – a imagem descontextualizada de um momento sócio-histórico e sem dialogar com outras ciências humanas como história, sociologia, psicologia, semiótica e antropologia.
Se uma grande quantidade de livros é lançada nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil ainda temos muito que caminhar. Nesta linha, a antropóloga e pesquisadora de fotografia, a pernambucana Geórgia Quintas, nos ajuda a avaliar a importância e, por que não, a funcionalidade da fotografia na nossa sociedade.
Geórgia acaba de lançar dois livros preciosos, que nos ajudam na reflexão sobre a linguagem fotográfica na contemporaneidade. Um dos livros é uma coletânea de seu pensamento e sua vivência como professora, pesquisadora e curadora de exposições. O outro é resultado de uma trabalho de pesquisa no arquivo do fotógrafo, também pernambucano, Ricardo Labastier, que resultou numa exposição que desvendou o acervo engavetado do autor.
O primeiro volume, só pelo título, nos instiga e desperta curiosidade: Inquietações Fotográficas: Narrativas Poéticas e Crítica Visual, são 22 textos nos quais Geórgia nos ajuda a olhar a fotografia de forma diferente. Textos que ela publicou no blog Olhavê, no Jornal do Commercio do Recife, em revistas acadêmicas ou em textos de parede de exposições. A fotografia que tenta entender o processo de criação do fotógrafo e a recepção do espectador, mas que, ao mesmo tempo, também serve para um mergulho no inconsciente da própria pesquisadora que já no primeiro texto se indaga Por Que Enxergamos as Fotografias e prossegue sempre relacionando a fotografia com memória.
Como pesquisadora de excelência, Geórgia partilha seus conhecimentos e nos encaminha pela sua forma de pensar e ver as imagens. Sem pudor, ela nos revela como é folhear um livro e compreender o mundo narrado pelo autor por intermédio de seus olhos. Ela deixa transparecer a sua emoção ao encontrar e entrevistar Júlio Santos, mais conhecido como mestre Julio, que numa época de selfies ainda realiza, em Fortaleza, a fotopintura, ou seja, uma pintura feita tendo como base um retrato fotográfico. O artista e sua técnica refinada e habilidade inspiram o livro Mestre da Fotopintura, de Tiago Santana, Isabel Santana e Rosely Nakagawa.
Já o segundo volume, Abismo da Carne, é o livro catálogo da exposição, com o mesmo nome, resultado da pesquisa no arquivo fotográfico de Ricardo Labastier, que foi realizada na DOC. Galeria há exatamente um ano. Na época, em entrevista, Geórgia afirmou: “Ricardo é um cronista, cada imagem tem uma história. Apesar de caótico, seu arquivo me ajudou a entender seu processo criativo, que é tão rico”.
Os dois livros foram aprovados no 13.º Prêmio Funarte Marc Ferrez, numa parceria entre o blog Olhavê e a editora Tempo dImagem. Por isso mesmo, eles não estarão à venda, mas serão distribuídos gratuitamente por meio do email [email protected]. Duas publicações, com texto em espanhol e português, que contribuem para a compreensão de temas como a pesquisa curatorial e o trabalho de criação dos artistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.