O dólar passou nesta quarta-feira, 2, pela terceira sessão consecutiva de perdas ante o real, sob influência do exterior e do cenário político brasileiro. Os desdobramentos da Operação Lava Jato reforçaram a percepção de que a presidente Dilma Rousseff pode perder o mandato, o que é bem visto pelo mercado. O dólar à vista cedeu 1,35%, aos R$ 3,8909, na menor cotação desde 29 de dezembro. Já a divisa para abril, que encerra apenas às 18h15, caía 1,00%, aos R$ 3,9195.
A maior cotação do dia foi vista logo no início dos negócios, às 9h23, quando o dólar à vista foi negociado a R$ 3,9407 (-0,09%). Depois disso, a moeda à vista amplificou as perdas, ainda que, no exterior, o dólar durante a manhã sustentasse ganhos ante várias divisas, em função das perdas nas cotações do petróleo.
Profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, disseram que a aparente discrepância entre o que ocorria no Brasil e em outras praças era resultado direto do noticiário político. A notícia de que executivos da Andrade Gutierrez relataram, em delação premiada, pagamentos diretos a empresa contratada pela campanha de Dilma Rousseff em 2010 era citada nas mesas. A leitura era de que, mesmo que não sirva de motivo direto para a perda de mandato, a delação complica a situação de Dilma tanto no Congresso quanto no TSE.
Surgiram ainda notícias de que a Odebrecht teria feito pagamentos no Brasil a uma empresa da enteada do publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas de Dilma. Os repasses, entre 2013 e 2014, seriam de R$ 134 mil.
Para piorar, o empresário José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, dono da OAS, admitiu a pessoas próximas a possibilidade de fechar um acordo de delação premiada com investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR) responsáveis pela Operação Lava Jato. Um dos empresários mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele deve contar, numa eventual colaboração, detalhes sobre o esquema de corrupção na Petrobras e sobre obras feitas pela empreiteira em imóveis de Atibaia e do Guarujá para a família do petista.
Estas informações sustentaram o dólar em baixa no Brasil ao longo da manhã e também à tarde, em meio à avaliação de que elas enfraquecem Dilma e, no limite, podem provocar uma mudança na Presidência. E com um novo governo, avaliam os players, o Brasil tem mais chances de se recuperar.
À tarde, houve relativa recuperação dos preços do petróleo no exterior e o dólar também passou a cair ante várias divisas de emergentes e exportadores de commodities. Isso intensificou o movimento de venda de divisas no Brasil e fez o dólar à vista marcar mínimas no início da tarde e, já perto do fechamento, às 16h50, ser cotado a R$ 3,8846 (-1,51%), no piso do dia. Depois, a divisa encerrou nos R$ 3,8909.