O dólar fechou outubro cotado em R$ 3,7283, acumulando desvalorização de 8% no mês. Foi a maior queda mensal desde junho de 2016, quando a moeda americana recuou 11% em meio à “lua de mel” do mercado com o governo de Michel Temer, que havia tomado posse em maio. Agora, os motivos para a queda também são o otimismo dos investidores com o novo presidente, Jair Bolsonaro (PSL), e seu futuro ministro da economia, Paulo Guedes. A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, destaca nesta quarta-feira, 31, que há uma animação dos investidores com as promessas do novo governo de atacar o problema fiscal brasileiro por meio de uma reforma da Previdência, além de reduzir o número de ministérios e expandir as privatizações.
O dólar começou outubro no nível de R$ 4,00 e, logo após a confirmação da vitória de Bolsonaro, chegou a bater em R$ 3,58, a mínima em cinco meses. Mas não se sustentou neste nível e vem oscilando entre R$ 3,65 e R$ 3,72 nos últimos dias. Na máxima desta quarta, dia de formação da taxa Ptax de outubro, foi a R$ 3,7453. A alta do dólar entre moedas de emergentes, principalmente o México (+1,20%), ajudou a pressionar o câmbio doméstico nesta quarta-feira e a moeda acabou fechando em alta de 0,97%.
A Continuum Economics, a consultoria do economista Nouriel Roubini, destaca que a queda do dólar em outubro foi mais rápida do que o esperado. Os economistas da casa acreditam que a moeda vai seguir nas próximas semanas na casa dos R$ 3,70, influenciada pelo desmonte de posições compradas em dólar. Os dados da B3 mostram que os estrangeiros têm US$ 39 bilhões comprados em dólar, futuro e cupom cambial.
O fato de o dólar não conseguir ficar de forma consistente abaixo de R$ 3,70 indica que há pressão compradora nesta região, ressalta o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior. Já o nível de R$ 3,75, que quase bateu nesta quarta, é visto como ponto para vendas, seja por tesourarias ou exportadores.
“Ganhos adicionais nos ativos do Brasil vão depender do sucesso do novo governo em avançar com as reformas econômicas, particularmente do inchado sistema de previdência”, afirma a estrategista da BlackRock, Isabelle Mateos y Lago, em relatório. Guedes parece comprometido em avançar com a agenda, observa ela, ressaltando que a dúvida neste momento é como se comportará o Congresso, que vai seguir fragmentado. Nesta quarta, a diretora de ratings soberanos da S&P Global Ratings, Lisa Schineller, disse que nesse ambiente de fragmentação e de dificuldade de se fazer coalizões, a expectativa é que o ajuste fiscal avance de forma gradual.