O Banco Central jogou a toalha. Depois de apenas observar a disparada recente do dólar, a instituição decidiu intervir nas cotações por meio de dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) marcados para a terça-feira. Para profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a ação é uma resposta ao estresse dos últimos dias e tende a fazer a moeda americana recuar em um primeiro momento.
Em comunicado divulgado na noite desta sexta-feira, 4, o BC informou que ofertará US$ 3 bilhões por meio de dois leilões na terça-feira. A recompra do montante ocorrerá em 4 de novembro e em 2 de dezembro. O anúncio surge após o dólar à vista ter fechado em R$ 3,85 no balcão, com alta de 2,56% nesta sexta-feira e de 8,06% em seis dias. Era justamente esta pressão que vinha fazendo o mercado financeiro, nas últimas sessões, especular em torno da necessidade de o BC atuar.
“Os leilões podem mesmo fazer preço, dar uma derrubada no dólar. Mas tenho dúvidas se isso não é apenas um paliativo. Na terça-feira o dólar volta a ser negociado e o Congresso também retorna ao trabalho. E a questão política está muito complicada”, avaliou um profissional da área de câmbio de corretora. Segundo ele, não será surpreendente se, após uma abertura em baixa, a moeda americana voltar a ganhar força pelos motivos de sempre: crise política e cenário de alta para o dólar também no exterior.
“Os leilões dão uma acalmada nos negócios só pelo fato de mostrar que o BC está vivo”, comentou Alexandre Cabral, professor de Finanças que acompanha regularmente o mercado cambial. “Se não surgir nenhuma notícia ruim da área política no fim de semana prolongado, tem tudo para o dólar cair na terça-feira”, acrescentou.
A despeito das dúvidas, chamou atenção o montante oferecido, de US$ 3 bilhões. Na última segunda-feira, a instituição já havia feito um leilão de linha de US$ 2,4 bilhões, mas naquele caso a operação era para rolagem de contratos que estavam para vencer. Desta vez, é dinheiro novo que entra no mercado, embora o prazo para devolução seja curto (em novembro e dezembro, caso não haja rolagem). O montante a ser oferecido na próxima terça-feira supera, por exemplo, os US$ 2 bilhões oferecidos em alguns dias de dezembro do ano passado.
Em dezembro, aliás, as operações do BC ocorreram para dar vazão à saída de fim de ano de recursos do País, quando as filiais enviam dividendos às matrizes no exterior. Agora, na avaliação dos profissionais, os leilões de linha buscam atender a certa demanda por moeda no mercado à vista. Com eles, o BC também evita ter que mexer diretamente nas reservas internacionais, já que os dólares serão devolvidos no futuro. Ao resguardar as reservas, o Brasil tenta evitar um rebaixamento de seu rating (classificação de risco) pelas agências internacionais.
Dentro do Banco Central, a avaliação é de que as operações da próxima terça-feira são triviais e que o montante oferecido é pequeno. Além disso, a instituição lembra que as recompras ocorrerão em um prazo curto.